Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
De acordo com o observatório da Fiocruz, Observa Infância, a hospitalização de bebês por desnutrição no Brasil atingiu o pior índice em 13 anos. Em 2021, o número absoluto de internações foi o maior do período, e só em 2022 a taxa já aumentou em 7% em relação ao ano anterior.
Estamos em 2022. No século 21. Na era da Indústria 4.0. Às portas de escolher entre mudar para Marte ou ir viver no metaverso. E as nossas crianças morrem de fome. Elas não morrem tanto, pois, graças aos cuidados, a taxa de mortalidade continua caindo. Mas os especialistas preveem uma geração com sérios problemas de saúde para daqui a 15 anos, com maior prevalência de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e insuficiência renal.
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, sendo o quarto maior produtor de grãos do planeta, com 7,8% da produção global, ficando atrás apenas de EUA, China e Índia. O país também é o segundo maior produtor de frango e o maior exportador de carne bovina do mundo.
60% do desperdício de alimentos ocorre em nossas próprias casas, e mais da metade do lixo doméstico são restos de comida
Por que esse paradoxo? A maior parte produção agropecuária no Brasil corresponde a monoculturas, commodities destinadas, em grande parte, à exportação. Muito disso, inclusive, destinado à alimentação animal. Só 15% do volume total produzido são alimentos que realmente fazem parte da dieta do brasileiro. Mas não é só isso: mesmo na produção de alimentos que possam estar no prato das pessoas, há um vilão rondando a produção de alimentos, e não é de hoje. De acordo com dados do Relatório Diagnóstico: Mapa da Fome e do Desperdício de Alimentos no Brasil, 29,7% da produção nacional de alimentos, entre o campo e a nossa geladeira, é desperdiçada. Assim como a fome, esse desperdício não é exclusividade do Brasil. Porém, aqui temos índices mais altos.
O que podemos fazer? Muita coisa. Segundo a ONU, 60% do desperdício de alimentos ocorre em nossas próprias casas, e mais da metade do lixo doméstico são restos de comida. Vamos começar planejando melhor? Já seria uma ajuda, inclusive para o nosso bolso.
Além disso, divulgar e apoiar iniciativas que podem reduzir esses números também faz bem. Existem desde startups como a Comida Invisível, que conecta doadores de alimentos com instituições que podem recebê-los, e a b4wastw, que promove a compra de produtos próximo da validade; trabalho de grandes empresas como Sodexo e Ikea para reduzir seu desperdício e educar consumidores; vários projetos educativos em escolas. Não faltam boas ideias sobre o que fazer. Falta você nessa. Vamos?