Um combate efetivo a facções e suas atrocidades requer ações em várias frentes. Passa pelo reforço no policiamento ostensivo, para frear suas ações e brutalidades nas ruas, e prisões e isolamento dos líderes, para evitar que sigam ditando ordens, mesmo de dentro das cadeias. Mas o estrangulamento financeiro dos grupos criminosos é um golpe certeiro para enfraquecê-los, tomando o lucro das organizações e de seus principais membros, recursos também usados para custear as suas atividades, como o tráfico de drogas e a aquisição de armas.
Feitos do gênero, voltados a atingir as finanças e o patrimônio do crime organizado, mostram a estes grupos que também os seus ganhos econômicos espúrios estão ao alcance dos braços da lei
A maior operação já realizada pela Polícia Civil gaúcha, desencadeada ontem, seguiu de maneira precisa por este caminho de rastrear o dinheiro, bloquear e apreender bens e ativos. A envergadura da ofensiva mostra ainda para a sociedade o poderio alcançado pela maior facção com atuação no Estado, com base no Vale do Sinos, mas de extensas conexões, inclusive no Exterior. A mobilização de 1,3 mil agentes, no Rio Grande do Sul mas também em outras três unidades da federação, ilustra o tamanho da ação que precisou ser montada para os objetivos serem atingidos. Afinal, foram mais de 1,36 mil mandados judiciais, dezenas deles de prisão, mas também voltados a reter cerca de R$ 50 milhões em dinheiro vivo, em contas bancárias, mercado acionário, imóveis, carros de luxo e até duas aeronaves.
Nos últimos dias, como resposta a um conflito que envolveu a facção alvo da investida de ontem e outra quadrilha rival que deixou ao menos 25 mortes e aterrorizou comunidades da zona sul da Capital, as forças da área de Segurança do Estado levaram a cabo um contra-ataque contundente, com detenções e transferências de criminosos como forma de isolá-los, limitando a capacidade de comunicação entre lideranças e com os seus comandados que ainda seguem nas ruas. Agora, como complemento, se impõe um vigoroso revés às finanças do grupo. Prender figuras que ocupam posições-chave e mesmo subalternos é essencial, mas sabe-se que é uma estratégia com eficiência limitada. Tanto chefões quanto membros inferiores dessas organizações costumam ser rapidamente substituídos e, assim, seus delitos não são estancados de maneira eficiente. A asfixia econômica, por outro lado, consegue um abalo mais efetivo por apreender o resultado de suas atividades, que, afinal, é o que os move e mantém as facções atuantes e ousadas.
A megaoperação contra a lavagem de dinheiro deflagrada ontem foi fruto de um ano e meio de trabalho incansável de investigação da 1ª Delegacia de Sapucaia do Sul. Realizada com o apoio do Ministério Público e de polícias de outros Estados, é uma reação exemplar do poder público, baseada em um exaustivo esforço de apuração e inteligência, merecedor de reconhecimento pelos gaúchos. Feitos do gênero, voltados a atingir as finanças e o patrimônio do crime organizado, mostram a estes grupos que também os seus ganhos econômicos espúrios estão ao alcance dos braços da lei.
