Na recente entrevista que o governador Eduardo Leite concedeu a Zero Hora, um ponto passou quase despercebido, no momento em que discorria sobre desafios na área da educação. Leite disse que gostaria de deixar como legado, a partir do próximo ano, a expansão do ensino integral no Estado. Referiu-se, especificamente, ao Ensino Médio, mas é preciso lembrar que, por força de legislações aprovadas em 2014, tanto em nível federal quanto no Rio Grande do Sul, será preciso um aumento expressivo na oferta de vagas na modalidade em que os alunos ficam mais de um turno nas escolas. Além das disciplinas previstas nos currículos, os estudantes têm acesso a atividades extras, ligadas a esporte, arte, experimentação científica, entre outras várias dimensões do conhecimento e relacionadas a vivências socioculturais.
É a base para formação de futuros adultos mais preparados e conscientes de seu papel como cidadãos
A lei federal que em 2014 instituiu o Plano Nacional de Educação previu que, até 2024, ao menos metade das escolas públicas do país deveria oferecer turno integral, englobando até 25% dos alunos da Educação Básica – que engloba Educação Infantil e os ensinos Fundamental e Médio. Do mesmo ano, lei estadual, de autoria da deputada Juliana Brizola, determina que, em igual prazo, ao menos metade das escolas de Ensino Fundamental da rede pública, localizadas prioritariamente em áreas de maior vulnerabilidade social, deveria oferecer matrículas em horário integral.
O Rio Grande do Sul, portanto, corre contra o tempo para alcançar esta meta. É preciso perseverar para atingi-la. Reportagem sobre o tema publicada em agosto em ZH apontava, por exemplo, que somente 91 das 2.145 instituições da rede estadual com Ensino Fundamental ofereciam a modalidade de tempo integral. O número representava somente 4,2% das escolas. A própria secretária de Educação, Raquel Teixeira, reconheceu à época a situação precária do Estado, como terceira unidade da federação com a menor oferta de tempo integral nos colégios.
Cumpre ressaltar que o conceito ensino integral, no sentido de formação completa do estudante, não é exatamente o mesmo de escola em tempo integral. Mas, em regra, sua adoção depende de aumento no número de horas no colégio. Aguardam-se, agora, mais detalhes por parte do governo gaúcho sobre as ações que serão implementadas. A pandemia trouxe urgências como a recuperação da defasagem no aprendizado, mas isto não significa abrir mão de planejar o futuro, com um horizonte que vá além dos quatro anos de uma gestão. Há inclusive maiores custos envolvidos, é verdade, mas os ganhos para a sociedade, a médio e longo prazos, são compensadores. Raquel Teixeira, aliás, trabalhou neste sentido quando ocupou o mesmo cargo, em Goiás, e como deputada federal.
A experiência mostra que alunos em escolas com turno e contraturno apresentam melhores notas, têm aprendizado diversificado, praticam mais esportes, têm ganhos nutricionais e ocupam melhor período do dia que poderia ser ocioso. Nas comunidades carentes, significa estarem mais protegido de riscos sociais. Os pais, ao mesmo tempo, podem trabalhar mais tranquilos. São aspectos que, ao fim, dão a base para formação de futuros adultos mais preparados para o mercado de trabalho e conscientes de seu papel como cidadãos. É exatamente o que precisa o país, onde melhorar o nível da educação é um dos grandes desafios do desenvolvimento. E mais ainda o Rio Grande do Sul, pelo fato de os gaúchos, nas últimas décadas, terem perdido espaço na qualidade do ensino em relação a outros Estados. Por sua importância estratégia, é um tema que tem de estar na agenda de debates dos candidatos ao Piratini.
Se foi possível obter melhores indicadores na área, com impacto na vida real, é preciso acreditar que se possa também melhorar o desempenho na educação e na saúde