Foram justas, mas sempre insuficientes, dada a dimensão do fato, as homenagens aos dois bombeiros soterrados enquanto combatiam o incêndio no prédio da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado na noite da quarta-feira da semana passada. O tenente Deroci de Almeida
Mesmo que seja impossível precisar as causas que levaram ao incêndio e depois ao desabamento, é dever usar o episódio como lição
da Costa, 46 anos, e o sargento Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós, 51 anos, deixaram familiares, amigos e colegas enlutados. Assim como toda a sociedade gaúcha, ao reconhecer a bravura de dois homens que tombaram no cumprimento do dever.
Todo esse turbilhão de tristezas, ao mesmo tempo, tem de gerar também uma profunda reflexão sobre as circunstâncias que ocasionaram essa tragédia humana e, principalmente, como evitar que ela se repita. Bombeiros, por formação e pelas características de sua missão, sabem dos riscos que os esperam quando decidem abraçar essa nobre profissão. Esse fato, porém, não exime o poder público de investigar as circunstâncias do ocorrido. Engenheiros e bombeiros convergem na certeza de que prédios daquele porte, mesmo antigos, não devem colapsar em uma hora e meia de exposição ao fogo, como ocorreu uma semana atrás.
Mesmo que seja impossível precisar as causas que levaram ao incêndio e depois ao desabamento, é dever usar o episódio como lição. Assim, devem ser determinadas providências como uma análise urgente das condições estruturais e de prevenção ao fogo de outros imóveis utilizados pelo poder público.
Independentemente dessa averiguação, necessária para preservar vidas e serviços prestados aos cidadãos, o momento de consternação também é de gratidão a todos os profissionais da segurança, em especial aos bombeiros, que arriscam suas vidas pelo bem comum. Cabe ressaltar aqui o destemor e o compromisso profissional de todos os colegas de farda, que trabalharam diuturnamente na busca pelos corpos soterrados por seis metros de escombros, após sete dias de intensa procura. Mesmo que a emoção tenha sido mais acentuada, repetiu-se, em Porto Alegre, o padrão de conduta que marca o ethos da corporação, com o mesmo empenho demonstrado em buscas e resgates de civis.
Passados o velório e o enterro dos dois bombeiros, com todas as devidas honras e homenagens, é natural que o tema, com o correr do tempo, vá perdendo espaço nos debates e nas notícias. Mas é dever de toda a sociedade cobrar que respostas sejam buscadas, em nome de correções necessárias para impedir incidentes semelhantes. Maior será a dor se, sem o devido zelo, desastres como o que tirou a vida do tenente Deroci de Almeida da Costa e do sargento Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós forem reprisados pela imprevidência. Que ao menos o terrível incidente da semana passada não tenha ocorrido em vão.