Se há um exemplo de mau gerenciamento de recursos públicos, péssima administração de uma estatal e incúria para conduzir uma licitação é o da compra de 15 trens pela Trensurb realizada em 2012. O caso foi lembrado ontem pela repórter Jennifer Gularte, em Zero Hora, ao menos agora com a boa novidade de que, após uma série de defeitos, não há mais problemas graves que os impeçam de voltar à circulação. Os veículos, com carrocerias da fabricante francesa Alstom e truques da espanhola CAF, chegaram ao Estado em 2014, mas a maior parte da frota nunca funcionou a contento e, após diversos episódios em que precisaram de consertos devido a falhas que comprometiam inclusive a segurança, parece que finalmente, agora, estão próximos de operar e atender a população usuária da Região Metropolitana.
O investimento de R$ 244 milhões, destinado a dar mais conforto aos passageiros e gerar economia para a Trensurb, se mostrou muito distante de atingir os objetivos propostos
O fato é que o investimento de R$ 244 milhões à época, destinado a dar mais conforto aos passageiros e gerar economia para a empresa, historicamente deficitária, se mostrou muito distante de atingir os objetivos propostos no projeto de necessária modernização da frota. O Grupo de Investigação da RBS (GDI) revelou, em 2018, duas dezenas de falhas técnicas que comprometiam 11 dos 15 trens e a sequência de problemas que levou ao negócio malfeito. Seis anos depois, a notícia é de que finalmente os equipamentos servirão para melhorar um serviço essencial para os gaúchos dos municípios atendidos pelos trilhos da Trensurb. Aguardam apenas manutenções corretivas, que, espera-se, ocorrerão com a maior celeridade possível.
Mas, mesmo que os trens enfim comecem a rodar e não voltem a apresentar falhas, o episódio já trouxe claros prejuízos aos usuários, que deixaram de contar com os veículos durante vários anos, à empresa e mesmo à sociedade, uma vez que a Trensurb apresenta sucessivos balanços no vermelho e é bancada com recursos da União, oriundos de todos os contribuintes. O caso mereceu apuração do Ministério Público Federal (MPF), que em primeiro momento preferiu dar mais atenção às soluções do problema, no sentido de priorizar os interesses dos passageiros. O ideal agora, como sinaliza o próprio procurador responsável pelo inquérito, é partir para a investigação sobre as responsabilidades da administração que fez a aquisição.
Apontar ações e omissões referentes ao caso é necessário, inclusive, para fazer com que gestores públicos tenham maior zelo no trato dos recursos recolhidos dos cidadãos, ainda mais quando envolvem somas vultosas, e assim casos semelhantes possam ser evitados. Mas, sobretudo, a situação é um exemplo de como é gerida boa parte das estatais no país. A Trensurb, agora, está na lista das empresas que o governo federal pretende privatizar. A aspiração é de que o processo tenha um bom andamento, para que a companhia possa, em um futuro nem tão distante, ser melhor gerida e prestar um serviço mais adequado aos passageiros.