A despeito da falta de vacinas e das agruras em certos dias decorrentes das poucas doses disponibilizadas, merece o devido destaque a alta procura pela imunização no Rio Grande do Sul. Esse grande interesse, além do receio quanto à covid-19, mostra uma ampla consciência dos gaúchos quanto à relevância de estar protegido contra o novo coronavírus, tanto pelos benefícios individuais quanto coletivos. Até agora, 22% da população apta no Estado já recebeu a primeira dose e 9% a aplicação de reforço, essencial para a eficiência máxima dos fármacos. São percentuais que alçam o Rio Grande do Sul à condição de líder nacional na vacinação.
Há grande adesão dos gaúchos à campanha de vacinação, mesmo com a epidemia de desinformação que grassou em todo o país nos últimos meses
É, sem dúvida, uma prova da adesão dos gaúchos à campanha de vacinação, indicando uma vitória da razão mesmo com a epidemia de desinformação que grassou em todo o país nos últimos meses, tentando desacreditar a ciência e os fármacos que, apesar da velocidade com que foram desenvolvidos, fruto de um esforço descomunal de pesquisadores em todo o mundo, passaram por rigorosas fases de avaliação até chegarem aos braços da população. Um sinal desse rigor é a decisão prudente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por exemplo, de orientar que seja interrompida a vacinação de gestantes e puérperas com o imunizante Oxford/AstraZeneca até o esclarecimento de um óbito. É uma posição que indica, sobretudo, cautela e responsabilidade, assim como o caso que envolve a russa Sputnik V, que carece de informações para que a sua segurança seja atestada.
Apesar do episódio lamentável da semana passada na Capital, quando um grande número de porto-alegrenses ficou exposto à chuva, ao frio e a uma longa espera para tomar a vacina CoronaVac, a organização da atual campanha e o desprendimento dos trabalhadores da saúde e voluntários devem ser considerados elogiáveis. A tarefa só não flui mais por escassez dos imunizantes. Isso não significa, entretanto, que inexista espaço para aprimoramento nos próximos meses. Uma boa ideia que pode ser avaliada, por exemplo, é a da prefeitura de Recife, que faz o agendamento por meio de um aplicativo, evitando filas e aglomerações.
Em Israel, nos Estados Unidos, no Reino Unido e mesmo no Brasil, observando-se os dados relativos a mortes dos mais idosos e profissionais da saúde, os benefícios da vacinação são cada vez mais evidentes. O turismo começa a retornar a Nova York, os abraços estão liberados para familiares e amigos entre britânicos e em Israel as atividades reabrem de forma segura graças ao amplo avanço da imunização. Para os gaúchos e brasileiros, resta esperar a chegada de mais doses para que o país também possa escalar posições no ranking global de doses aplicadas por habitante. Ao menos está comprovado que, em meio a ondas de negacionismo e teorias conspiratórias, a lucidez predomina de forma incontestável.