Mesmo que a única saída sustentável para a crise global da covid-19 seja a vacinação em massa da população, cientistas ao redor do mundo também se dedicam, neste momento, à busca por outras drogas que tenham bom resultado no tratamento de doentes. Os resultados de um destes experimentos foi divulgado ontem pela farmacêutica suíça Roche. Embora a cautela deva predominar até o fim de todos os estudos e aprovações, mostrou-se promissor o desempenho de um coquetel que combinou os medicamentos casirivimab e imdevimab em pacientes não hospitalizados. Os dados da fase 3 indicaram uma redução de 70% nas internações ou mortes em pessoas enfermas.
Resta confiar que pesquisadores, universidades e laboratórios conseguirão, com o tempo, dar as respostas que a humanidade aguarda
É preciso novamente ressaltar que, apesar de as conclusões até aqui demonstrarem um desempenho auspicioso, elevando o nível de esperança quanto ao desenvolvimento de um tratamento comprovadamente eficaz contra o coronavírus, é necessário aguardar, principalmente pela publicação dos estudos completos em periódicos científicos de credibilidade. Só então, após a revisão do trabalho de forma independente, por pares dos pesquisadores que formularam o coquetel anticovid, as conclusões serão definitivas. A combinação dos medicamentos, de qualquer forma, representa um alento para o mundo, especialmente para os pacientes de alto risco, diz a Roche. Segundo a empresa, cerca de 25 mil pessoas já participaram dos estudos clínicos e há outras análises em curso, principalmente em pacientes hospitalizados.
Era de se esperar que a ciência, após desenvolver várias vacinas já aprovadas contra a covid-19 em tempo recorde, também apresentasse resultados satisfatórios na busca de remédios com potencial de ajudar a curar pessoas contaminadas ou combater complicações. Há vários outros experimentos em andamento. Além de representarem boas perspectivas, podem ajudar a enfim encerrar controvérsias sobre tratamentos sem comprovação científica que acabam sendo usados por um grande número de pessoas. Em muitos casos há inclusive uma perigosa automedicação, com uso supostamente preventivo. Crescem os relatos de efeitos colaterais graves.
Estas constatações, cada vez mais disseminadas, levaram inclusive ontem a Associação Médica Brasileira (AMB) a mudar o seu posicionamento e lançar uma nota em que afirma inexistirem benefícios em uma série de medicamentos como cloroquina, invermectina e e azitromicina, entre outros, e preconizar o banimento destas drogas das recomendações profissionais para tratar a covid-19. A compreensível ansiedade em torno da procura por fármacos eficazes não pode se sobrepor às evidências científicas e à prudência. Resta confiar que pesquisadores, universidades e laboratórios, nos quatro cantos do mundo, conseguirão, com o tempo, dar as respostas que a humanidade tanto aguarda.