Em um ano mais uma vez marcado por incertezas na economia, são ao menos promissoras para o Estado as perspectivas para a agropecuária, setor com significativo peso no PIB gaúcho e de elevada capacidade de irradiação de seu desempenho para outros segmentos, principalmente indústria e comércio, mas também para uma vasta rede de serviços. O alívio veio especialmente nos últimos dias com o retorno de chuvas mais regulares e volumosas, devolvendo projeções otimistas para a cultura da soja, carro-chefe das lavouras do Rio Grande do Sul.
O alívio veio especialmente nos últimos dias com o retorno de chuvas mais regulares e volumosas, devolvendo projeções otimistas para a cultura da soja
A falta de umidade que persistia há algumas semanas reavivava temores de uma nova seca, que, assim como em 2020, causasse elevadas perdas na agricultura. As novas informações vindas do campo, entretanto, indicam que as plantações voltaram a apresentar desenvolvimento satisfatório e boas condições sanitárias. Assim, a Emater projeta que, neste ano, o Estado poderá colher 18,9 milhões de toneladas de soja, deixando para trás a quebra na produção observada no ano passado, quando a safra foi de apenas 11,3 milhões de toneladas. A Farsul é ainda mais confiante e calcula 19,8 milhões de toneladas.
As boas notícias que chegam do campo incluem a lavoura de arroz, setor que vive uma grave crise estrutural por longos anos devido aos preços baixos. O valor obtido com a comercialização tem sido muitas vezes até insuficiente para cobrir o custo das lavouras, levando a prejuízos sequenciais e abandono da atividade. As cotações tiveram uma forte reação no ano passado, impulsionadas por fatores como crescimento das exportações, mudança de hábitos alimentares da população e o auxílio emergencial. Neste início de 2021, mesmo com preços um pouco abaixo do praticado em 2020, se mantêm em patamares altos, ajudando na recuperação da orizicultura, colaborando com o crescimento da renda dos produtores e alavancando a economia das regiões produtoras.
O panorama favorável se completa com a pecuária. Com oferta restrita para abate e o apetite chinês, o quilo vivo do boi gordo na última semana de janeiro foi 28% acima do mesmo período do ano passado, conforme acompanhamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A nota dissonante vem do milho, que terá nova quebra de safra pela falta de chuva nos meses finais de 2020. Mesmo assim, principalmente pela recuperação da soja, a tendência é de que a agropecuária dê neste ano um empurrão extra para o avanço da economia do Estado. Em parte devido à safra frustrada, a queda do PIB gaúcho até o terceiro trimestre do ano passado foi de 8,6%, acima do recuo observado no Brasil (- 5%). Como é um setor que não para, tem demanda assegurada e ganha produtividade ano a ano, a contribuição do clima tende a fazer em 2021 o agronegócio voltar a ser um esteio do crescimento da economia do Rio Grande do Sul, disseminando benefícios para os demais setores em todos os cantos do Estado.