Merece a mais alta atenção o alerta que parte das autoridades da saúde e do governo gaúcho sobre o quadro extremamente grave da pandemia no Rio Grande do Sul e as preocupações com o que pode acontecer nas próximas semanas. O Estado chegou na sexta-feira à marca de mil pacientes com covid-19 internados em unidades de tratamento intensivo (UTIs), maior número desde o início da crise sanitária, e o rápido crescimento da chegada de novos enfermos necessitando leitos clínicos põe o sistema hospitalar gaúcho sob o risco iminente de um colapso.
É preciso, neste momento, um esforço máximo para interromper a cadeia de transmissão do vírus
O cenário aflitivo fez o Palácio Piratini colocar 11 regiões do Estado sob bandeira preta, mas com suspensão geral de atividades em todo o território gaúcho entre 22h e 5h, a partir deste sábado. As aulas presenciais não serão retomadas nas regiões sob risco altíssimo, como Porto Alegre, decisão prudente confirmada pelo prefeito Sebastião Melo. O Rio Grande do Sul atravessa um momento que requer cuidados excepcionais. Para enfrentar os dias desafiadores à frente, será imprescindível a colaboração irrestrita de toda a população com as medidas necessárias para conter a disseminação do vírus e, ao mesmo tempo, a adesão dos prefeitos e demais lideranças de cada município. Por parte dos cidadãos, é essencial redobrar a disciplina com práticas, hábitos e comportamentos que têm o poder de diminuir o ritmo de contágios, como evitar aglomerações, fazer a assepsia constante das mãos e usar máscaras de forma correta.
O momento é delicado por uma série de fatores. A vacinação, que seria a grande barreira para deter a covid-19, se desenrola em cadência muito aquém da necessária e, em algumas cidades, está até paralisada momentaneamente por falta de doses. Concorre para agravar o quadro o surgimento de novas variantes que se mostram mais contagiosas, talvez mais letais e que podem ainda ludibriar o sistema imunológico de quem já teve a doença. Há ainda a grande preocupação com a ameaça de aceleração das infecções após o festival de irresponsabilidades observado ao longo do Carnaval, com aglomerações e festas clandestinas em vários pontos do Estado e no Litoral. Muitos jovens que participaram desses ajuntamentos, de várias regiões do Rio Grande do Sul, estão agora voltando para os seus municípios de origem, elevando o potencial de propagação da covid-19.
Esta soma de agravantes exige esforço máximo para interromper a cadeia de transmissão do vírus. Sob pena de, nos próximos dias, as estruturas de saúde não terem condições de suportar o ritmo de chegada de novos pacientes.
A seriedade da situação impõe que cada um se conscientize, faça a sua parte e reconecte o seu comportamento à realidade dura que precisa ser enfrentada. O novo coronavírus já enlutou famílias e amigos de mais de 11,6 mil gaúchos. Frear esta conta macabra, que pode se elevar de forma ainda mais acelerada se a postura de relaxamento generalizada da sociedade não for revista, é tarefa de todos.