São preocupantes as informações de que ao menos 12 Estados brasileiros, inclusive o Rio Grande do Sul, já têm registros de casos de covid-19 causados pela nova variante da doença identificada pela primeira vez em Manaus. Mais grave ainda é a constatação de que são infecções autóctones. Ou seja, não foram "importadas", indicando a existência de transmissão local. É o que se acredita que possa ter acontecido em Gramado, na serra gaúcha, onde um idoso de 88 anos, que vivia em uma chácara e tinha pouco contato com outras pessoas, contraiu a nova cepa e acabou morrendo.
A inquietação com a possibilidade de a variante conhecida como P1 se disseminar ainda mais também se deve a outros fatores
A inquietação com a possibilidade de a variante conhecida como P1 se disseminar ainda mais também se deve a outros fatores. Embora existam pesquisas em curso, não há certeza sobre o grau de eficácia das vacinas disponíveis no Brasil contra a cepa. Ao mesmo tempo, a despeito de não existirem estudos conclusivos, especialistas adiantam que a P1 parece ser mais transmissível. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a falar, na semana passada, em um potencial três vezes maior. Há ainda o alerta de que a variante pode driblar o sistema imunológico de quem já teve covid-19, causando reinfecção. Chega-se a cogitar, inclusive, o risco de uma terceira onda do novo coronavírus no Brasil, agravando uma tragédia hoje materializada em mais de 240 mil mortes.
Apesar de inexistirem conclusões em relação à ação das vacinas hoje aplicadas no país sobre a nova cepa, a imunização em massa ainda é a única forma de deter o avanço da covid-19. Perturba, portanto, a interrupção da campanha em várias cidades brasileiras pela falta de doses. É urgente que o Ministério da Saúde, com transparência, informe como pretende reabastecer Estados e prefeituras, para que outras paralisações não ocorram. A situação também exige que o governo federal agilize negociações com outros fornecedores para assegurar mais vacinas para o Brasil o mais rápido possível.
Em meio a tantas aflições, leitos voltam a ficar lotados em todo o país. Cidade próxima do Rio Grande do Sul, Chapecó (SC) vive um colapso, com a falta de vagas de UTI. Em Araraquara (SP), com diversos casos da nova cepa, foi decretado lockdown. Em Gramado, novas restrições foram necessárias após o recrudescimento da covid-19 no município. A preocupação aumenta devido às inúmeras aglomerações e festas clandestinas observadas durante o Carnaval. Muitas no Estado. São assustadoras as imagens dos ajuntamentos de centenas de jovens no Litoral Norte. Nos próximos dias, estarão de volta às suas comunidades, assumindo o risco de levar o patógeno a outras pessoas, inclusive familiares. O resultado tende a ser o crescimento do número de casos, de hospitalizações e de mortes.
Diante dessa combinação explosiva, os apelos à população devem ser reiterados. Cada um tem de fazer a sua parte, mantendo o distanciamento social, usando máscara e higienizando constantemente as mãos. A vacinação se iniciou no Brasil, mas segue lenta. A pandemia está longe de ser derrotada.