Claro que o mal maior para quem está vivo é a morte. Alguém tem dúvida? Temer a morte é a ordem da vida. E o bem maior é estar e continuar vivo. Pelo fato de estar vivo, existem sentimentos maravilhosos que acalentam a nossa existência, que tornam nossa vida tão indescritível e outros que nos deixam esgotados, aborrecidos, atormentados. Atualmente uma parcela muito grande de pessoas convive com uma inquietação comum:
A aflição. Agora aflorou, mas na verdade começa lá pela infância. Crianças ficam aflitas com o desconhecido, o desconforto, a fome, o frio, o abandono ou a autonomia que lhes falta. Jovens se sentem inquietos pela pressão social, pela falta de sossego provocada pela necessidade de se “estabelecer” na vida. O que fazer do futuro, dos sonhos, do amor que não aparece ou não é correspondido, da desilusão, das dificuldades que parecem insuperáveis, intransponíveis? E os jovens pais? Quem imaginaria que a sequência de noites em claro nem é levada em conta se comparada à aflição causada por alguma indisposição ou enfermidade dos pequenos. E a ausência de recursos? Imagine o que é a aflição de um endividado a quem a vida não lhes deu a sorte de conseguir manter as contas em dia? Passa noites em claro imaginando como conseguir o mínimo para suprir suas necessidades e da família.
Sentimentos ruins trazem a aflição que atormenta quem está acordado e quem tenta dormir.
A aflição está aí, viva, presente. É tão danosa que às vezes chega a ser mais prejudicial aos doentes que a própria enfermidade. Os idosos? Alguns continuam vivendo aflitos. Outros, mais calejados pelo tempo, entendem que o sofrimento é parte da vida. São resilientes. Para eles não vale a pena somar mais sentimentos negativos ao sofrimento que já tiveram ou ainda aguentam.
Até as igrejas colocam em suas orações pedidos para que Deus interceda e console os aflitos. Não adianta ser o homem mais atraente ou a mulher mais linda do bairro se neles habitam alguns tipos de inveja, ódio, ciúme, raiva. Esses sentimentos são poderosos para corroer a alma de alguém e fazer com que viva retroalimentando o negativo. Sentimentos ruins trazem a aflição que atormenta quem está acordado e quem tenta dormir. A aflição degrada o corpo e a alma. Mas claro que tem gente que passa longe disso tudo, tem sorte. De alguma maneira consegue se desvencilhar dessas amarras, é otimista, compreensivo, resolvido e vive sem que haja prejuízo maior em seus dias.
Para quem, por algum motivo, convive com algumas dessas dificuldades, com certeza teve um aprofundamento nos últimos doze meses. Para quem não conhecia o significado de aflição, a pandemia os ensinou. Precisamos descobrir como desligar ou minimizar os efeitos desse sentimento em nosso cérebro para torná-lo um mal menor. Os neurocientistas devem estar trabalhando nisso. Eu acredito que podemos começar pela vacina.