Estava cada vez mais nítido, pelo recrudescimento dos números da covid-19 nas últimas semanas no Estado, que novas medidas restritivas teriam de ser impostas para conter o novo avanço do vírus. Essa é uma batalha na qual cada dia de luta para frear a doença e minimizar infecções e mortes importa e, por isso, lastima-se que as atitudes tenham sido postergadas, seja pelo calendário eleitoral ou por outros motivos, quando era perceptível a necessidade de retroceder alguns passos nas medidas de flexibilização de atividades. Agora, no entanto, não é mais hora de discutir qual seria o momento mais adequado de agir, e sim de compreender que são restrições necessárias e, sobretudo, que precisam do engajamento da população para serem efetivas.
Sem o comprometimento de cada cidadão, as providências terão efeitos reduzidos e corre-se o risco de as autoridades terem de tomar medidas ainda mais duras
As novas limitações, que por enquanto mantêm o comércio e outros negócios abertos, com condicionantes de capacidade e horários reduzidos, não dependem apenas do que determinam o governo do Estado ou prefeituras para darem resultados. Sem o comprometimento de cada cidadão, terão efeitos reduzidos e corre-se o risco indesejado de as autoridades terem de tomar medidas ainda mais duras, com reflexos negativos para a economia, mas que se justificarão para salvar vidas. Está comprovado que opor ambos significa criar uma falsa dicotomia, mas conseguir harmonizá-los depende essencialmente da soma de esforços individuais, como manter certo distanciamento, evitar aglomerações, fazer a assepsia constante das mãos e usar máscaras.
Pode ser considerada natural certa exaustão após vários meses de isolamento social e limitações. A queda do número de casos, mortes e internações, a partir de setembro, também transmitiu a ilusória sensação de que o vírus estava fatalmente a caminho de ser vencido. As notícias sobre diversas vacinas se aproximando da fase de aprovação pelos órgãos da área, da mesma forma, acabaram contribuindo para um relativo relaxamento. A campanha eleitoral, com milhares de candidatos se movimentando pelas cidades, deu sua contribuição para reacelerar a pandemia. A ameaça também cresce com a chegada dos meses mais quentes do ano. O calor acaba sendo um estimulante para as pessoas saírem às ruas e se deslocarem para o Litoral, gerando grandes concentrações. O perigo se potencializa com as festas de final de ano, sinônimo de encontros familiares e confraternização.
Mas a realidade dura é que o vírus voltou a circular com mais força no Rio Grande do Sul e no Brasil. Não há certeza de quando será possível começar o processo de imunização e recém ontem o Ministério da Saúde apresentou um plano preliminar de vacinação. O novo coronavírus já matou mais de 6,8 mil pessoas no Estado, mais de 173 mil no país e quase 1,5 milhão no mundo. Em meio à falta de uma coordenação federal eficiente, seguirá somando mais e mais vítimas se não houver engajamento da sociedade e de cada cidadão para proteger a si e a quem está próximo. Depois de tanto sacrifício, não se deve abrir flanco para o risco de jogar todo o esforço fora.