O Brasil, por meio de suas instituições democráticas, deve fazer o possível para manter as eleições municipais nas datas previstas, ainda que sejam necessárias mudanças significativas na dinâmica da campanha e da própria votação. Uma delas, já proposta pelo ministro Luís Roberto Barroso, que comandará o pleito à frente do Tribunal Superior Eleitoral, é reservar horários especiais para que as pessoas com mais de 60 anos, as mais vulneráveis à covid-19, possam comparecer às urnas com maior segurança.
Em meio a tantas incertezas, manter o ciclo democrático será um ato de maturidade e de segurança institucional
Em muitos países, as eleições estão ocorrendo nas datas previstas, com adaptações, como foi o caso da Coreia do Sul. No Brasil, existe a oportunidade de simplificar e baratear o processo. Campanhas mais curtas e menos aglomerações, com menos estardalhaço, são a regra geral na maioria das nações democráticas, nas quais a racionalidade na escolha dos representantes políticos se sobrepõe ao exagero emocional que tanto influencia as escolhas dos brasileiros.
Felizmente, há muito as eleições estão introjetadas na vida do país. Por terem se tornado parte da normalidade nacional, já não precisam ser mais saudadas como "festas da democracia", mas sim como um espaço de reflexão sobre propostas e gestão pública, verdadeiros eixos produtivos do debate entre visões diferentes que a disputa eleitoral oferece. Em meio a tantas incertezas, manter o ciclo democrático será um ato de maturidade e de segurança institucional. Importante ressaltar que há desafios a serem enfrentados, como o atraso na compra de urnas eletrônicas necessárias para garantir o fluxo e a normalidade do pleito. Há, porém, tempo e competência para encontrar soluções.
Mesmo no contexto da pandemia, não se justifica sequer falar em prorrogação de mandatos, o que atentaria contra a vontade popular expressa nas urnas para exercícios de quatro anos dos prefeitos e vereadores. Além dos já citados horários especiais para os 60+, há várias medidas que poderão ser adotadas, com ou sem adiamento das eleições previstas para outubro: higienização constante, distanciamento nas filas e inclusive se admitir a votação em mais de um dia para evitar aglomerações – medidas simpáticas ao TRE gaúcho, na voz de seu novo presidente, empossado sexta-feira, desembargador André Luiz Villarinho.
No momento em que tanto se fala sobre critérios para definição de atividades essenciais, é fundamental garantir que o ato de votar esteja no topo da lista – e que lá permaneça. Em nome dessa prioridade inadiável, devemos direcionar esforços, recursos e tempo para garantir o direito de os brasileiros escolherem livremente seus representantes, ainda mais relevantes quando a realidade apresenta enormes desafios, mas, por outro lado, oferece a oportunidade de construir um futuro diferente e melhor para todos.