Por Gilberto Lahorgue Nunes, cardiologista
A pandemia causada pela covid-19 tem provocado impacto significativo sobre o sistema de saúde, e não apenas devido ao atendimento dos doentes infectados.
O isolamento social, fundamental para o controle da propagação do coronavírus, tem acarretado um outro fenômeno com potencial igualmente deletério à saúde da população. Pacientes portadores de doenças crônicas e também aqueles com quadros agudos não relacionados à covid-19 tem deixado de procurar o atendimento tanto em hospitais quanto em clínicas por receio de contaminação.
Dados da cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, evidenciaram, nos dois últimos meses, um aumento explosivo do número de pacientes que sofreram parada cardíaca em casa. A falta de acompanhamento médico, o receio de procurar atendimento hospitalar e a suspensão de medicações são elencados como possíveis causadores dessa situação.
No Brasil, o número de pacientes tratados nas emergências por ataques cardíacos sofreu uma redução de 40-50%. Para completar, a demora desses pacientes em procurar o atendimento médico de emergência pode provocar agravamento do quadro clínico e maior risco de sequelas graves.
Um outro efeito colateral importante da atual pandemia é a redução expressiva das internações hospitalares e das cirurgias e procedimentos eletivos, acarretando uma diminuição dramática da taxa de ocupação dos leitos e, por consequência, da receita dos hospitais.
Além disso, o setor passou a sofrer com o aumento dos custos na compra de materiais e equipamentos para o atendimento dos infectados pela COVID-19 e para a proteção das equipes de saúde. Para sobreviver a esse quadro econômico-financeiro desfavorável, os hospitais têm promovido cortes significativos das despesas, inclusive com dispensa de funcionários.
Essa pandemia certamente vai passar, porém os seus efeitos colaterais sobre o sistema de saúde certamente serão mais duradouros, podendo impactar negativamente a qualidade do atendimento de saúde por um período bem mais prolongado.