Atropelado por uma sucessão de crises políticas e econômicas, o Brasil se vê agora em meio à incerteza causada pela chegada do coronavírus ao país e pelo aumento acelerado do número de casos. É provável, como já alertou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que os brasileiros tenham dias difíceis pela frente. Em torno de 20 semanas, arriscou, sinalizando que uma mudança drástica na rotina nas cidades pode estar por vir. Contratempos como cancelamento de eventos e de aulas, menor circulação de pessoas em locais fechados ou trabalho em casa talvez sejam sacrifícios necessários para evitar uma propagação maior do vírus que assombra o mundo.
O momento exige que governantes se unam, deixando de lado diferenças, para atuarem de forma conjunta no esforço para conter a disseminação da covid-19
A gravidade do momento exige que governantes de todas as esferas e líderes de poderes se unam, deixando de lado diferenças, para atuarem de forma conjunta no esforço para frear a covid-19 no Brasil. Não é hora de tergiversar em medidas necessárias para mitigar danos maiores à saúde da população e à economia já debilitada do país. Tampouco é momento de alimentar disputas políticas que acentuem o clima de divisão. É a hora da responsabilidade.
É preciso que União, Estados e municípios estejam preparados para adotar medidas restritivas, de acordo com o ritmo de avanço do vírus, caso necessário. Os homens e mulheres que têm o poder de decisão no país necessitam, neste momento, de frieza e sensatez para tomar atitudes que podem ser incômodas, mas serão bem-vindas se o julgamento sereno for de que seriam imprescindíveis para suavizar o ritmo de contágios e, assim, poupar mais vidas. Isso não significa excesso ou alarmismo, algo que, fora de hora, pode levar a pânico e a comportamentos irracionais que transbordem para a escassez de produtos ou prejudiquem esforços de controle do coronavírus. Por outro lado, a inconsequência individual, coletiva ou de autoridades fatalmente conduzirá ao agravamento da situação do país.
Observando estratégias adotadas em outros países, o Brasil tem exemplos do que fazer e do que deve evitar. Pelo lado negativo, desponta o Irã, que desprezou os primeiros sinais do surto e tentou ocultar a gravidade da situação da população e do mundo, desencadeando a marcha desenfreada da epidemia. Quem mais arcou com as consequências foi a população. No outro extremo, Singapura estabeleceu um rígido controle de contaminados e isolou os que tiveram contato com eles. Em dois meses de surto na cidade-Estado, a contabilidade oficial indica somente um número aproximado de cem casos ativos.
Por onde o vírus se espalhou, foi preciso lançar mão de iniciativas dolorosas, como restrição ao trânsito de pessoas, quarentenas em massa e a proibição de aglomerações, potencialmente propícias à propagação do vírus. Lamentável, neste sentido, a atitude do presidente Jair Bolsonaro, que ontem saiu do isolamento em que estava para cumprimentar apoiadores na manifestação também irresponsável que, de forma dissimulada, apoiou. Quem deveria dar o exemplo agiu de forma inconsequente, colocando seus interesses políticos acima do bem comum.