A democracia pressupõe a separação de poderes, mas também sua harmonia. E é essa configuração, decisiva para o desenvolvimento do Estado, que ganhou mais corpo no Rio Grande do Sul com os posicionamentos conciliadores dos três chefes de poderes gaúchos – dois deles, o presidente da Assembleia, Ernani Polo, e o presidente do Tribunal de Justiça, Voltaire de Lima Moraes, tomaram posse na segunda-feira.
O espírito de construção coletiva é fundamental para que o Rio Grande do Sul reingresse no caminho do desenvolvimento
Diálogo foi a palavra de ordem predominante nas posses e nas manifestações posteriores dos dois novos chefes de poderes. Em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, o presidente do TJ afirmou que vai se reunir com outras instituições para buscar um denominador comum. "Temos de ver o que cada poder pode fazer pelo outro", disse Voltaire de Lima Moraes. A presença em sua posse de seis ex-governadores originários de um amplo arco ideológico deu a dimensão de que o Estado pode vencer as barreiras políticas do passado que fizeram o Rio Grande do Sul parar no tempo, quando não retroceder em algumas áreas.
Esse espírito de construção coletiva é fundamental para que o Rio Grande do Sul reingresse no caminho do desenvolvimento. Em muitas ocasiões, nas últimas décadas, prevaleceram sobre o interesse coletivo as posições corporativistas, individualistas ou ideológicas. Elas não desaparecerão por milagre nem por manifestações de boas intenções. Mas a imensa maioria da população do Estado, que recolhe impostos para ter serviços públicos de qualidade em retribuição, sofre com infraestrutura, educação, saúde e segurança muito aquém de suas necessidades porque os organismos públicos do Rio Grande do Sul se converteram em praticamente pagadores de salários e pensões, com estreita margem para investimentos e benefícios concretos para a população.
Encontrar uma saída passa pelo diálogo franco e aberto, com real disposição para identificar e colocar em prática soluções no campo tanto da receita quanto das despesas. Na Assembleia, a continuidade da disposição de colaborar para equacionar os problemas mais graves do Estado é fundamental para o futuro dos gaúchos. Embora as divergências sejam naturais, é o bem coletivo – e não mais corporativo – que deve sobressair nas votações. O populismo e a demagogia com categorias de servidores passaram a ser malvistos por boa parte do eleitorado, que agora também espera uma postura que privilegie a massa da população que não ocupa as galerias em protestos ruidosos mas que deposita silenciosamente seus votos na urna.
"Podemos até estar em vagões diferentes, mas todos estamos no mesmo trem e na mesma viagem – e é para a frente que precisamos ir", escreveu em artigo publicado em Zero Hora o novo presidente da Assembleia. A viagem não ocorre sem sobressaltos, mas, se os condutores estiverem de acordo sobre que rumo tomar, já se estará em um caminho de recuperação e de esperança para o futuro dos gaúchos.