Age corretamente o governo brasileiro ao decidir retirar de Wuhan os brasileiros que estão nessa cidade, ponto nuclear do surto do novo coronavírus na China. O Planalto chegou a titubear quanto à possibilidade de resgate alegando questões legais, de custo e diplomáticas, mas de forma acertada percebeu que deveria mesmo optar pela repatriação. Ajudou no convencimento a publicação de um vídeo em que apelam para o presidente Jair Bolsonaro para serem retirados do território chinês.
Enquanto o resgate e a quarentena são organizados, é preciso não baixar a guarda na preparação para enfrentar o novo coronavírus
Uma das razões que semearam dúvida no governo e atrasaram a decisão para deflagrar a operação foi a falta de segurança legal relacionada à exigência de quarentena de duas semanas após o retorno dos brasileiros. Pode-se admitir que, levando-se em conta o histórico de liminares exóticas que volta e meia surpreendem o país, era compreensível certo temor e cuidado pela possibilidade, inclusive, de uma decisão judicial colocar por terra o período de isolamento do grupo que vem da área de risco por não haver lei específica sobre o tema. Essa hipótese aumentaria o perigo de o novo agente infeccioso chegar ao Brasil.
Foi positiva, da mesma forma, a postura dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, ao apoiarem de forma irrestrita a decisão de o governo brasileiro enviar uma aeronave à China para a retirada dos brasileiros. São cerca de 40 pessoas, a maior parte a serviço da Petrobras. Acertam também as lideranças do Congresso ao assegurarem uma rápida aprovação de medida provisória a ser enviada pelo governo com uma legislação específica sobre quarentena sanitária, garantindo maior segurança jurídica à intervenção. Caso não apareçam contratempos, a aeronave deve partir nesta terça-feira para a China.
O Brasil, assim, segue o bom exemplo de outros países, que foram rápidos no resgate de seus cidadãos. Estados Unidos, Japão, França, Grã-Bretanha, entre outros, já levaram seus compatriotas para casa, adotando todas as medidas necessárias para evitar que o vírus se espalhe.
Enquanto o resgate e a quarentena são organizados, é preciso não baixar a guarda na preparação para enfrentar o novo coronavírus, na possibilidade de casos também serem confirmados no Brasil. Além de planejar a ação na rede de saúde, é primordial uma severa ofensiva contra a epidemia de desinformação que, em casos como esse, costuma ter rápida disseminação. Da mesma forma, é preciso lamentar a mesquinharia de uma minoria barulhenta que, nas redes sociais, mostrou-se contrária à repatriação. O sentimento de humanidade da maioria, felizmente, prevaleceu.