Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Houve um auê quando o ministro Paulo Guedes chamou os servidores públicos de parasitas, mas o fato não pontua no quesito originalidade. Adjetivar negativamente certos trabalhos é tão velho quanto a economia como ciência. Referia-se ele a quem? Servidores de hospitais e postos de saúde? Os que sobraram do INSS? Professores? Militares? Policiais? Juízes? Promotores? Quais desses seriam dispensáveis para a sociedade?
O ideário liberal costuma desqualificar tudo o que lembra Estado - um paradoxo, pois não há mercado sem um Estado que o institucionalize. Tal visão de mundo resiste a incorporar o conceito de nação. E não só na área social: ao final da Guerra do Paraguai, os então liberais defendiam a extinção do Exército. Gaspar Martins reduziu a proclamação da república a mero golpe militar. O Brasil foi um dos últimos países da América a criar universidades. Ainda hoje, na maciota, acham um desperdício tanta gente para defender fronteiras, ensinar, pesquisar, em orquestras sinfônicas... A segurança pode ser privada, tecnologia pode-se importar e a educação é cara demais. A ignorância e a vulnerabilidade externa, claro, são mais baratas.
Os primeiros economistas, os fisiocratas, consideravam que só os trabalhadores do setor primário produziam riqueza. Os demais – como do comércio, indústria, bancos - eram “estéreis”, viviam do excedente criado pela agricultura. Adam Smith, Ricardo, Marx e Malthus também faziam a distinção entre trabalho produtivo e improdutivo. Só o trabalho gerador de lucro seria produtivo. O exemplo smithiano: com muitos empregados numa empresa, fica-se rico; com muitos criados numa casa, pode-se ficar pobre. Operários seriam produtivos, aumentam a riqueza; os domésticos, improdutivos. O mais inusitado foi Fourier, que enumerou as atividades “inúteis” e pôs no mesmo saco financistas, prostitutas, burocratas, magistrados, clérigos e filósofos “extravagantes”. Este adjetivo visava incluí-lo na exceção? Já Keynes considerava parasitas os rentistas – os que ganhavam sem trabalhar, como os nobres proprietários de terra e especuladores do mercado financeiro, os quais vendem papeis e nada produzem.
Interessante é que, em todas as definições acima, sempre a área de origem do superministro seria enquadrada como “parasitária”. Talvez o único consenso.