Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
O ministro Paulo Guedes não é burro. Ao contrário, é um dos economistas mais capacitados do país. Paulo Guedes também não é ingênuo. Longe disso, tem uma extensa trajetória nos círculos de poder do país. E, depois de 12 meses como ministro, ele também não pode mais ser considerado um neófito. Então, o que faz com que um cidadão com esses predicados tenha proferido uma das frases mais infelizes da história recente? “Todo mundo indo pra Disneylândia. Empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada. Peraí! Vai passear ali em Foz do Iguaçu...”. E seguiu a verborragia burra, ingênua e neófita – sem falar no alto grau de preconceito por sílaba.
Muito já se falou sobre a frase, e não vou ficar aqui chovendo no molhado. Meu ponto é outro. Não é sobre quem falou, é sobre quem ouviu. Os eleitores de Bolsonaro não são burros (alguns ao menos). E, obviamente, nem todos são ingênuos (muitos compraram a tese de guerra contra o PT a despeito de todo o resto, e não o fizeram por ingenuidade). E nenhum deles é neófito em eleição, a menos que 2018 tenha sido sua primeira eleição na vida. Então, o que faz com que defendam uma frase idiota só porque veio do governo que apoiaram?
Tenho uma tese simples: esse pessoal não entendeu a frase. Não é sobre o dólar alto (que é muito diferente de câmbio flutuante ou valorização irreal do real). Tampouco é querer ver na frase uma defesa do turismo nacional. E, muito menos, de achar que empregadas domésticas não devem ir pra Disney. O ponto é outro: empregadas domésticas não vão e nem foram pra Disney. Uma ou outra até pode ter ido mesmo, fruto de um enorme esforço pessoal. Mas nunca foi uma regra geral. E, se fosse, paradoxalmente seria um enorme reconhecimento aos governos do PT.
Mas não, as domésticas não iam para a Disney aos borbotões. Quem ia era a nova classe média, que aproveitava as promoções de passagens e os combos das CVCs e achava que tinha ficado rica. Quem ia pra Disney era a tradicional família brasileira que finalmente conseguiu viajar de avião pro Exterior. Quem ia pra Disney era aquele povo que fez conta na ponta do lápis pra oferecer uma experiência inesquecível aos filhos. Ou aqueles que simplesmente trabalharam a vida toda pra isso. Ou quem, por ter capacidade financeira, pode ir pra onde bem entender sem que isso signifique um ultraje ou motivo de deboche de um governante.
Quando apoiamos uma frase como essa ficamos burros, ingênuos e neófitos. Porque as domésticas do Paulo Guedes somos todos nós.