Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
O dia do leitor é comemorado no Brasil no dia 7 de janeiro. Não há muito o que se comemorar, claro. A cada ano a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Instituto Pró-Livro, nos revela dados que explicam por que estamos onde estamos. Os últimos resultados mostram que o brasileiro lê, em média, 2,43 livros por ano. Evidente que com esse índice, temos um povo com pouco repertório analítico, baixo amadurecimento crítico e mínima capacidade de leitura da realidade – todos predicados que a leitura não apenas ajuda, mas potencializa e aprimora.
Como querer um país melhor se não formamos leitores? Já falei aqui do absurdo do ensino de literatura ser em ordem histórica, obedecendo a cronologia dos fatos. Nenhuma escola vai ensinar a gostar de ler desse jeito. Ou a criança aprende em casa ou com um professor apaixonado e sedutor (literariamente falando, obviamente). De minha parte, sofro de antemão como pai recente. Meu filho ainda está longe da alfabetização, mas já me pergunto como farei para seduzi-lo pelo mundo das palavras impressas e romantizadas. Sim, porque hoje, com apenas 1 aninho, ele já parece saber como ampliar ou reduzir a tela do Iphone, e já me aponta o aparelho querendo ver a tela brilhar. Vejo amigos com filhos de 8, 10, 12 anos dizendo que eles passam dias na praia sem que um livro seja aberto. (Embora também me pergunte se esses filhos copiam os pais, ou se, ao menos, enxergam o gesto de um livro aberto.)
Se depender de exemplo, meu pequeno leitor está garantido. Eu abro muitos livros e compro ainda mais do que abro. Há até uma palavra em japonês – Tsundoku – para o hábito de adquirir livros mais rapidamente do que a própria capacidade de leitura, gerando pilhas intermináveis de volumes não lidos. Sofro deste mal. Além de me lotar de angústia, também lota as prateleiras da casa. E quanto mais leio, mais coisas novas descubro, que levam a novas buscas, novas descobertas e novas compras. Um processo em looping. Como é, aliás, o aprendizado das crianças: a cada dia uma nova descoberta, um novo espanto, um novo passo, uma nova palavra, um novo raciocínio, um novo olhar, uma nova estupefação diante do que o mundo pode oferecer e ela ainda não sabia e ninguém tinha lhe mostrado.
A leitura faz pela gente exatamente a mesma coisa: nos mostra o que o mundo pode oferecer e a gente não sabia. Desde pequenos, crianças e leitores crescem da mesma maneira. É nosso papel não deixarem que eles se separem depois de adultos.