Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e empreendedorismo e professora da PUCRS
Computação quântica, inteligência artificial, internet das coisas. Assistentes virtuais, veículos autônomos, telemedicina. O cenário da inovação parece nos levar necessariamente ao mundo das máquinas, representado hoje pelo que chama de Indústria 4.0. Mas isso é somente uma parte da história. E para mostrar o outro lado dela, o Japão, no seu 5º Plano Básico de Ciência e Tecnologia, documento que define políticas de inovação a serem estimuladas pelo país, publicado em 2016, cunhou o termo Sociedade 5.0.
Depois das fases das Sociedades anteriores: Extrativista, Agrícola, Industrial e da Informação, eles pensam que o mundo precisa evoluir para um contexto onde o foco seja a melhora de qualidade de vida e a sustentabilidade do planeta. Um mundo em que a tecnologia seja utilizada a serviço das pessoas e não o contrário. Esse conceito, embora faça parte de um projeto do governo japonês, foi apresentado e discutido em 2019 na Reunião do G20 e no Fórum Econômico Mundial, e foi também objeto de publicação da UNESCO. No Brasil o IT Fórum, evento que trata de tecnologia, trouxe, na edição de 2019, Yoko Ishikura para falar sobre o tema. Para a consultora e professora emérita da Universidade Hitotsubashi, de Tóquio, a tecnologia, que traz muitos benefícios e facilidades, também tem um lado que pode ser negativo, como a falta de segurança de dados, por exemplo. No evento ela afirmou que "a Sociedade 5.0 não fala apenas sobre tecnologia, mas sobre pessoas, e a tecnologia deve ser usada para o seu bem".
Os japoneses desejam construir uma sociedade inteligente, que vai muito além de ter Smart Cities (cidades inteligentes). Na Sociedade 5.0, o valor criado por meio da inovação deverá eliminar as diferenças causadas por idade, gênero e idioma, e ser capaz de permitir o fornecimento de produtos e serviços adaptados às diversas necessidades individuais. Dessa forma, será possível promover o desenvolvimento econômico ao mesmo tempo que se encontram soluções para os problemas sociais.
Sim, no futuro teremos drones entregando mercadorias, microchips controlando nossa saúde e robôs de todo tipo nos ajudando com tarefas. Mas não seremos uma sociedade verdadeiramente evoluída se o ser humano não estiver no centro do processo da decisão econômica. Estamos preparados para passar de nível?