Por Gabriela Ferreira, líder de Impacto Social no Tecnopuc e diretora técnica da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)
Acredite: inovação e empreendedorismo é muito mais sobre fracasso do que sobre sucesso. Segundo o Bureau of Labor Statistics, a metade dos negócios, em nível mundial, não sobrevive ao quinto ano e somente 44% chegam aos 10 anos de existência. No Brasil, dados do Sebrae mostram que metade das empresas morre antes de completar dois anos. E os negócios que sobrevivem são feitos de muitas mudanças e vários projetos fracassados ao longo do caminho.
E essa realidade não perdoa ninguém. O fundador da Wikipédia, antes dela, falhou várias vezes e perdeu muitos milhares de dólares. De Walt Disney a Steve Jobs, todos os inovadores fracassaram, mais de uma vez, antes do sucesso. O fato é que não se sabe, não se divulga, não se comenta. Isso dá a falsa ideia de que o sucesso é para gênios que acertaram sempre, de primeira, sem nenhuma falha de percurso, o que, definitivamente, não é verdade.
A cultura brasileira é intolerante ao erro dos empreendedores e eles são colocados sempre na cadeira dos réus. Eu não quero aqui, de forma alguma, promover o erro, mas, sim, incentivar a tolerância a ele. É improvável que, no campo da inovação, de algo que não se conhece, que nunca foi feito, não aconteçam erros. É uma ilusão pensar que, se a expectativa em relação a um resultado indesejado no desenvolvimento de produtos e processos for a condenação, as pessoas estarão dispostas a criar.
Recente estudo da Kellogg, conhecida escola de negócios dos EUA, comparou pesquisadores que conquistaram e os que não conseguiram recursos de pesquisa nos mesmos editais. A surpresa foi que, no longo prazo, os perdedores acabaram se saindo melhor na vida acadêmica. Ou seja: precisamos, em todos os âmbitos, repensar a nossa relação com o fracasso. Com essa ideia surgem eventos como Failcon e Fuckup Nights, nos quais, para o bem da verdade dos fatos, empreendedores compartilham suas falhas. Neles são apresentados exemplos reais, e o que fica, principalmente, é a possibilidade de aprender com os erros e a importância da persistência para o sucesso nos negócios. Não é à toa que a resiliência é tida como uma das principais características de empreendedores e inovadores.
Em tempos de avaliação de final de ano, que tal incorporar o que "não deu certo" de uma forma positiva, encarar como aprendizado e seguir adiante?