Por André Luiz Reis da Silva, professor de Relações Internacionais da UFRGS
Em mais um sinal de alinhamento aos Estados Unidos, o governo brasileiro demonstrou apoio ao ataque militar norte-americano, que provocou a morte do general iraniano Qasem Soleimani, em solo iraquiano. O apoio foi demonstrado tanto por nota oficial do Itamaraty quanto por declarações presidenciais, argumentando que se solidarizava com os EUA na “luta contra o flagelo do terrorismo”. Em diplomacia, cada palavra tem seu peso específico e bem preciso, e cada gesto deve ser muito bem calculado. Não foi o que ocorreu neste caso. O apoio conferido pelo Itamaraty aos Estados Unidos nesta questionável ação militar constitui um erro estratégico, com consequências de curto e médio prazos. O Brasil mais tem a perder do que a ganhar com essa postura.
O Brasil tem interesses no Oriente Médio, tanto comerciais quanto políticos. Sem passado colonialista e com capacidades militares limitadas, pautou sua política para a região pela moderação, cooperação e, principalmente, pelo apoio à solução pacífica de conflitos. São poucos os países, como o Brasil, que possuem comércio, cooperação e interlocução com todos os países na região. Essa posição equidistante conferia ao Brasil o papel de interlocutor e um possível mediador de conflitos. Dez anos atrás, inclusive, juntamente com a Turquia, intermediamos um acordo de controle nuclear do Irã, que não se efetivou por desinteresse dos EUA e de outras potências nucleares.
Agora, a mudança de posicionamento da política externa brasileira, de alinhamento descuidado aos interesses norte-americanos, sobrepondo os nossos interesses, pode trazer prejuízos ao Brasil. Nosso comércio com o Irã e com demais países pode ser prejudicado por boicotes. Para constar, o Irã figura entre os maiores compradores de milho, soja e carne bovina do Brasil. Do ponto de vista securitário, o risco é baixo e deve ainda se manter assim. Mas a consequência mais visível é o crescente isolamento político que o Brasil vem construindo, tanto multilateral quanto bilateral. Não há perspectivas de ganho com essa postura, que costuma gerar resultados decepcionantes ao país.
O Brasil vem alcançando, como resultado dessa política de alinhamento, o isolamento e a irrelevância internacional. Estamos apenas consumindo rapidamente um patrimônio diplomático notável, construído por gerações de brasileiros, e reduzindo assim nossa margem de autonomia decisória. O caso iraniano constitui mais um exemplo.