Por Cezar Roedel, professor, consultor em Relações Internacionais
Do império à República, a diplomacia brasileira consolidou princípios relativamente perenes, que conseguiram atravessar, inclusive, toda sorte de experimentação política, de Deodoro da Fonseca a Jair Bolsonaro. Muitos desses princípios foram alicerçados por Barão do Rio Branco, um dos patronos de nossa diplomacia. Grande parte deles estão consolidados em nossa Carta Magna de 1988, mais precisamente no seu artigo quarto, que rege as relações internacionais do Brasil: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, cooperação entre os povos e a concessão de asilo político.
Ainda em referência ao artigo quarto da CF, o Brasil, de forma inovadora nos dispositivos, consagra ainda, o repúdio ao terrorismo internacional. Destarte, a nota emitida pelo Itamaraty em alusão à defensiva norte-americana contra a Força Quds do Irã e suas ramificações políticas, coloca em destaque justamente esse princípio basilar e constitucional, esquecido por alguns governos do passado recente. O terrorismo tornou-se, cada vez mais, uma preocupação global, forçando as nações democráticas a manifestarem seu posicionamento e, no caso brasileiro, qualquer neutralidade perante o tema seria uma forma de omissão (talvez proposital) ou de adiamento de uma responsabilidade perante a comunidade internacional.
Devemos lembrar, em primeiro, que o terrorismo internacional é problemática recente, das últimas décadas. Manter um posicionamento claro, transparente e corajoso sobre os problemas mais pulsantes do mundo, em segundo, parece ser um valor democrático e benfazejo. Em terceiro, defender os princípios constitucionais e que regem as nossas relações internacionais é sinal para o mundo de nosso apreço às leis maiores. Em governos passados, cabe lembrar, houve inclusive presidente que defendia o “diálogo com terroristas” ou até mesmo apoio a ditaduras do Oriente Médio. Afinal, que tipo de diplomacia queremos para o Brasil: a do “diálogo com terroristas” ou a do realista e tenaz repúdio ao terrorismo e suas manifestações mais diversas? Ao rechaçar qualquer forma de terrorismo (até as mais veladas e obscuras), o Brasil não rompe com tradições, apenas renova o seu protagonismo.