Por Paulo G. M. de Moura, cientista político e documentarista
O documentário “Impeachment: O Brasil nas ruas”, que produzi e dirigi junto com Beto Souza e está disponível no NOW e no Google Play, assume de cara a intenção de contar a história do impeachment pela ótica dos seus protagonistas. O filme custou R$ 60 mil reais e só aconteceu porque cada profissional se desdobrou em cinco e porque as imagens das mobilizações e tempo de trabalho foram doadas por ativistas.
“Democracia em Vertigem” já era gravado antes de ter direitos comprados pelo Netflix e recebeu recursos de cinco fundações. “Impeachment: O Brasil nas ruas” foi financiado com recursos próprios e por uma vaquinha que recebeu doações de ativistas e apoiadores do impeachment. Netflix não quis comprar pois passou a bancar somente produções “marca própria”. Exibir nos canais citados custou mais R$ 10 mil reais pela codificação das cópias. O filme apresenta 28 entrevistas com líderes dos movimentos de rua, juristas que defenderam o impeachment e analistas de ampla projeção na academia e na mídia; além disso, mostra cenas da defesa das partes no Congresso.
A ideia nasceu nas ruas, em 2015, quando ouvi as pessoas que faziam selfies nas manifestações dizerem que precisavam registrar aqueles momentos para contar aos netos que fizeram parte da história. Sabendo que havia uma versão petista sendo gravada, decidi fazer um filme para defender a tese de que o impeachment não foi um golpe e correspondeu a uma demanda de milhões de brasileiros que foram às ruas defender a democracia.
Creio que Petra teve o mesmo insight com sinal trocado, movida por “náusea e dor”, como declarou à Folha de São Paulo. Natural que Petra se sinta assim sendo neta dos donos de uma das empreiteiras do Petrolão e filha de ex-militantes do PCdoB.
Parafraseando o sociólogo Eduardo Matos de Alencar, creio que o problema da Petra é que dá para fazer um filme sobre o impeachment de Dilma na voz de uma comunista com náuseas, mas não dá fazer um filme realista na voz de uma comunista em vertigem que não entende porque o governo da Dilma foi o maior desastre da nossa história, sem que o objeto da obra seja a própria incapacidade da autora de aceitar a realidade. O filme de Petra se resume ao retrato de uma realidade pintado por uma vítima ingênua da propaganda do PT. Merece o Oscar.