Por Tomás Adam, jornalista
Todos os anos, empreendedores e investidores de startups de vários países reúnem-se em Lisboa para participar da Web Summit, o principal encontro de tecnologia e inovação do mundo. Para além da efervescente feira de negócios, dos renomados palestrantes e de diversas rodadas de networking, um aspecto chama atenção – e ele nem sequer se mostra na arena do evento.
Basta uma breve caminhada a alguns quilômetros dali, nas ruas do entorno do Cais Sodré, do Bairro Alto ou da Alfama. Livrarias, museus, cafés e bistrôs recebem pessoas falando em inglês, francês, espanhol ou mandarim. Coworkings surgem aos montes, com empreendedores solitários dividindo espaço com braços digitais de grandes multinacionais. Edificações antigas são revitalizadas e estimulam o seu uso a qualquer hora do dia.
O ressurgimento lisboeta é um exemplo, em especial, para o Rio Grande do Sul e para Porto Alegre – especificamente, por dois motivos. O primeiro é econômico: a nação ibérica viveu, há cerca de 10 anos, uma das recessões mais graves de sua história, com recordes de desemprego. Depois, passou por um bem-sucedido processo de ajuste fiscal. Foram medidas de austeridade duras e impopulares, mas necessárias para resgatar a credibilidade e preparar o caminho para os investimentos.
O outro fator, um pouco mais subjetivo, é cultural. Os portugueses costumam ser vistos como empreendedores tradicionalistas, pouco afeitos a mudanças e inovações. O provincianismo impera por ali. Quais as chances de um país assim despontar nesse campo competindo com gigantes como Alemanha e França?
A Web Summit nos dá um indício: houve um alinhamento entre setor público, iniciativa privada e academia em torno da nova economia. Todos compreenderam que não há caminho para o futuro que não seja traçado pela transformação digital. Assim, começaram a agir: modificaram arcabouços legais, possibilitaram parcerias, abriram os olhos e as portas para o mundo. Eis a grande lição que Portugal nos ensina – e que inspira nosso Estado e nossa capital para o amanhã.