Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – Pisa, na sigla em inglês – consiste em um exame trienal, organizado pela OCDE, para testar os conhecimentos de jovens de 15 anos de idade. Em 2018, cerca de 600 mil estudantes de 79 países foram testados em leitura, matemática e ciências.
Em leitura, 50% dos jovens brasileiros não foram além da identificação da ideia central de um texto de tamanho moderado, que seria o nível mínimo aceitável. Em matemática, apenas 32% atingiram este patamar. Já em ciências, 45% dos que fizeram a prova se mostraram capazes de lidar com o mínimo aceitável para a faixa etária.
Sobre esses resultados, a manifestação imediata do ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi atribuir o fracasso às gestões passadas, especialmente porque elas teriam adotado uma “... doutrinação esquerdófila sem compromisso com o ensino”, e que isso viria de Paulo Freire.
Bem, Freire é um dos principais educadores do século 20 – concorde-se ou não com suas ideias. Seu biógrafo, Sérgio Haddad, aponta que ele nunca foi comunista nem pregou educação partidária. E antes que o novo presidente da Funarte dê pitaco: era cristão convicto e atuou por uma década no Conselho Mundial de Igrejas na Suíça, quando esteve exilado.
As evidências indicam que não há nada de doutrinário em Paulo Freire. Antes pelo contrário, ele acreditava que pensar no aluno como mero receptor é que abriria espaço para doutrinação. Conforme afirma Haddad, em artigo na Folha de S. Paulo de 14/4/2019, Freire “propunha o diálogo efetivo, crítico, respeitoso, sem que o professor abrisse mão de sua responsabilidade como educador no preparo das aulas e no domínio dos conteúdos”.
O que há, sim, é a discussão que Freire propõe sobre o conhecimento enquanto poder e o quanto classes dominantes poderiam manipulá-lo para manter seu status. Isto não tem relação alguma com método ou conteúdo, mas com a identificação do papel democrático e cidadão da educação.
O ministro Weintraub sinaliza que acredita em ensino mecanizado e apartado da realidade social, no melhor estilo linha-dura. Para ele, este é o caminho para melhorar o resultado do PISA. Acontece que educação vai além da tabuada e da conjugação de verbos. Ela também é parte da forja da cidadania. O mundo, cada vez mais, tem reconhecido a importância da educação socialmente responsável e diversa – e isso não prejudica o Pisa.