Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Por ocasião do Dia Nacional da Consciência Negra, nesta semana, a Giane Guerra fez um apanhado de dados sobre a posição dos negros no mercado de trabalho a partir de um estudo do Dieese, que utiliza dados do IBGE. A taxa de desemprego entre os negros foi de 12,4% no segundo trimestre deste ano, contra 7,3% entre os não negros. O rendimento médio por hora dos homens negros foi de R$ 11,50, já o rendimento médio dos não negros alcançou R$ 17,23. Além disso, os negros representam apenas 6% dos ocupados com Ensino Superior em posições que exigem a formação.
Para comparar o rendimento entre trabalhadores, primeiro precisamos identificar quais os principais determinantes da produtividade. Existe uma série de características observáveis que ajudam a explicar a produtividade: idade, número de anos de estudo, experiência, horas dedicadas ao trabalho etc. Quando comparamos pessoas idênticas nessas características técnicas observáveis, espera-se que a remuneração seja a mesma. Quando não é, atribuímos a diferença àquilo que não deveria ser elemento de discriminação, como a cor da pele.
Então, quando olhamos o diferencial entre negros e não negros em números agregados, não estamos fazendo este exercício de isolar características pessoais – e podemos estar comparando coisas incomparáveis. No entanto, duas questões precisam ser consideradas. Primeiro, a literatura especializada garante que existe discriminação racial no mercado de trabalho. Ou seja, na média, se tomarmos duas pessoas idênticas em tudo, mas diferentes na cor da pele, o negro tende a ter remuneração menor.
A segunda questão é justamente sobre as características que definimos como as variáveis pessoais que explicam a diferença de produtividade. Quando as definimos, resolvemos o problema da comparabilidade. No entanto, geralmente não se considera o quanto o resultado de determinada variável explicativa, como por exemplo a educação, também pode ser previamente influenciada pela cor da pele. Me parece mais do que razoável considerar que existe discriminação cumulativa e multidimensional.
Portanto, apenas se tivermos uma sociedade com igualdade de oportunidades e condições para negros e não negros, essa diferença agregada deixará de existir. Neste caso, as benesses e dificuldades serão as mesmas para todos, independentemente da cor. Enquanto este dia não chega, não é despropositado fazer comparações agregadas.