Por Francisco Hauck, CEO da Fábrica do Futuro
Em tempos onde a transparência, tecnologia e a qualidade da experiência do usuário são pilares básicos da relação do público com serviços e produtos, é de se esperar que a expectativa do cidadão para com os seus representantes políticos seja medida pela mesma régua. O usuário (cidadão) quer ter voz ativa, interagir, ter acesso a dados organizados e dispor de ferramentas eficientes, com entregas concretas, para seguir engajado e continuar reconhecendo a legitimidade e utilidade das instituições políticas. A falha em atender a estas premissas pode criar uma lacuna muito grave entre o cidadão e a estrutura democrática.
Ferramentas inteligentes e bem desenhadas podem trazer uma grande parcela da população para perto da política ativa. Já podemos perceber a sensibilidade do público ao assunto pelo grau de influência das fake news e redes sociais, e como elas movem mentes e corações em torno de narrativas de cunho ideológico.
Recursos como tecnologia e dados abertos conseguem se tornar ferramentas eficientes para este fim. Estes preceitos constituem o que se denomina Governo Aberto. Existe um acordo internacional sobre o tema, firmado em 2011 (OGP), que possui hoje 75 países-membros e 20 governos subnacionais, incluindo o Brasil.
As reformas requisitadas pelo Governo Aberto não devem estar restritas ao poder executivo, mas precisam também permear o poder legislativo. Isto significa repensar e otimizar os canais de comunicação e interação com os eleitores para que estes possam acompanhar e ter voz ativa na criação e aprovação de leis, constituindo a figura de um Parlamento Participativo. Experiências já estão ocorrendo em países como Suécia, Itália, Estônia, África do Sul, Zimbábue e Mongólia.
Existem muitos desafios: legais e operacionais. Certamente uma alternativa ao modelo tradicional passa por tentativas e erros, aprendizado, uma boa dose de tolerância e negociação com a classe política. O fato é que este movimento precisa partir da sociedade civil, a maior beneficiada.