A magnitude da crise das finanças públicas do Rio Grande do Sul há muito exige uma solução estrutural para os gastos com pessoal, principal fonte do desequilíbrio crônico entre receitas e despesas que faz do Estado um ente que hoje vive mais para si do que para servir à maioria silenciosa dos gaúchos. O governador Eduardo Leite deu ontem demonstração de ter essa compreensão e indicou disposição para enfrentar a questão espinhosa com medidas duras, mas inadiáveis e imprescindíveis para que o poder público comece a reverter a situação de penúria e volte a ser um propulsor do desenvolvimento, e não o contrário, uma âncora pesada que trava a atividade econômica, o emprego e a renda.
Nas últimas três décadas, nenhum governo conseguiu mudar o curso de colisão do Estado contra uma realidade cristalina: o Rio Grande do Sul, por todas as óticas, quebro
Acabou a margem para tergiversar, frente à constatação de que os custos com pessoal sugam 82% da arrecadação do Estado. O aceno com iniciativas paliativas e a espera por recursos extraordinários que nunca chegam também, ao longo dos anos, provaram ser vãs esperanças. A matemática pura e simples mostra a premência de dar um basta à permissividade, apesar de o enfrentamento com as corporações que se sentirem prejudicadas tender a ser renhido e desgastante.
Há momentos em que a encruzilhada da História impõe a defesa e a adoção de medidas impopulares. Neste sentido, acerta o governo Leite ao propor extinguir benefícios previstos para o funcionalismo de todos os poderes, como o triênio e o quinquênio, alterar o plano de carreira do magistério e propor modificações no regime de previdência dos servidores, entre outras medidas amargas, mas necessárias. Espera-se, ao mesmo tempo, que a Assembleia mostre outra vez consciência da gravidade do quadro e não ceda a pressões, especialmente de setores mais abastados. No mesmo caminho vai a proposta de reforma administrativa da União, em busca de enxugamento dos gastos com pessoal.
Nas últimas três décadas, nenhum governo, de nenhuma cor ideológica, conseguiu mudar o curso de colisão do Estado contra uma realidade cristalina: o Rio Grande do Sul, por todas as óticas, quebrou pelo excesso de benesses e benefícios a corporações que, ressalve-se, não são culpadas, pois defenderam seus interesses como qualquer outro segmento em uma democracia.
Chegou, então, o tempo da guinada. É preciso que alguns abram mão de vantagens, em nome da maior parte da população gaúcha, principalmente a mais humilde e dependente dos serviços públicos em áreas como educação, saúde e segurança.