O Rio Grande do Sul ingressa hoje em uma nova era sem estar preparado para as mudanças que se fazem e se farão, cada vez mais, necessárias. A projeção dos dados do IBGE indica que, nesta segunda-feira, nosso Estado passará a ter, pela primeira vez na História, mais habitantes com idades iguais ou superiores a 60 anos do que crianças e adolescentes de zero a 14 anos. Entrevista realizada pelo jornalista Caio Cigana com ex-diretor do programa de envelhecimento da ONU, o médico brasileiro Alexandre Kalache, publicada no final de semana por Zero Hora, alerta para a inexistência de políticas públicas voltadas a essa virada demográfica, que se inicia pelo Rio Grande do Sul mas chegará a todo o país.
Os 60+ de hoje encaram essa fase da vida como um novo momento de realizações, experiências e busca de objetivos
Da mobilidade urbana, passando pela educação, pela previdência e chegando à área da saúde, o perfil mais maduro da população exige uma prestação de serviços e um modelo de Estado que já deveria estar sendo debatido e construído. Estamos atrasados e, justamente por isso, o alerta tem a função construtiva de oferecer dados e análises que inspirem decisões e ações urgentes. Não é só a esfera pública que precisa prestar atenção a esse fenômeno, que vem se construindo lenta e constantemente há décadas, impulsionado pela expectativa de vida maior e pelo menor número de nascimentos entre os gaúchos. Indústria, comércio, agronegócio e prestadores de serviço têm pela frente o desafio de se adaptar ao público cada vez mais grisalho e diferente do estereótipo do idoso envelhecido e ocioso. Pesquisas mostram que os 60+ de hoje encaram essa fase da vida como um novo momento de realizações, experiências e busca de objetivos. Essa realidade, mostrada em reportagem publicada no caderno Vida do fim de semana, começa hoje a ser analisada em uma série de artigos nas página de Opinião do jornal, no site GaúchaZH e também nas rádios Gaúcha e Atlântida.
Apesar do atraso, existem iniciativas positivas, como a do município de Veranópolis, que já vem se moldando há bastante tempo a essa nova pirâmide etária.
Em meio a necessidades bem mais visíveis e barulhentas, a mudança do perfil etário da população acaba ofuscado. Os números nos mostram que, finalmente, chegou a hora de alçar esse tema ao centro do debate. Não é mais uma questão de vontade, mas sim uma realidade de mercado e uma imposição dos fatos.