A reação do presidente Jair Bolsonaro às novas denúncias que envolvem o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, contradiz o discurso contundente de combate implacável à corrupção que o ajudou a chegar ao Planalto. Eleito deputado federal por Minas Gerais, Álvaro Antônio foi, na semana passada, indiciado pela Polícia Federal (PF) e denunciado pelo Ministério Público por supostamente comandar um esquema de candidaturas de fachada, com desvio de dinheiro público. Em vez de anunciar apoio às apurações para o esclarecimento dos fatos, Bolsonaro preferiu novamente atacar a imprensa, que apenas cumpre sua missão de informar, e, de forma ainda pouco compreensível, blindar o correligionário, mantendo-o no cargo.
Em vez de apoiar as apurações para o esclarecimento dos fatos, Bolsonaro preferiu novamente atacar a imprensa, que apenas cumpre sua missão de informar
Se, ao contrário, o presidente da República defendesse o esclarecimento criterioso do episódio dos laranjas do PSL, ajudaria a afastar qualquer resquício de suspeita de ligação com os métodos de seu ministro. Um dos pontos levantados pela investigação indica a possibilidade de Álvaro Antônio ter usado os recursos na campanha de Bolsonaro em Minas, mas não há qualquer sinal de conhecimento do presidente sobre o caso.
O comportamento chama mais atenção por não ser um movimento isolado. Com uma postura que afronta a impessoalidade que o cargo exige, também se mobiliza para inviabilizar as investigações sobre o senador Flávio Bolsonaro, seu filho, interferindo no Coaf, que trocou de nome e de pasta a que era subordinado, e tentando movimentar peças na PF e na Receita Federal. São ingerências que maculam a figura presidencial e contrariam o palavreado moralizador da campanha. Assim como causa estranheza a conduta do ministro da Justiça, Sergio Moro, que derrapou ao sinalizar ter informações privilegiadas sobre o caso dos laranjas, endossar ataques à imprensa e ainda agir como advogado de defesa do Planalto – o que prometera não fazer.
Ao mesmo tempo em que tenta criar cortinas de fumaça em torno de investigações técnicas, Bolsonaro não hesita em lançar suspeitas, mesmo sem provas, contra adversários reais ou imaginários, a exemplo da sugestão de que ONGs estariam incendiando a Amazônia. Ou quando aventa a possibilidade de o vazamento de óleo na costa nordestina ser algo proposital.
Sem chegar a um quarto do mandato, o presidente tem tempo para recuperar sua imagem perante os eleitores e mostrar que o discurso contra a chamada velha política e todos os seus vícios não era apenas estratégia de candidato. Para isso, não deve se acomodar seletivamente no combate a malfeitos e irregularidades. Palavras iradas não bastam. É uma disposição que precisa ser provada no dia a dia, mesmo que os atingidos sejam pessoas próximas.