Por Mateus Bandeira, consultor de empresas, ex-presidente do Banrisul e ex-secretário de Planejamento do RS
A venda das ações do Banrisul, como quer o governador, será lesiva ao Estado. Portanto, prejuízo a todos os gaúchos.
Na ação popular que subscrevo e em depoimento à Assembleia Legislativa usei argumentos técnicos contra a venda. Como ex-presidente do Banrisul, conheço bem o assunto.
O atual mandatário discorda. Havia, porém, duas formas de fazê-lo: politicamente ou com base na lógica econômica.
O governador, primeiro, escondeu-se no sigilo judicial. Absurdo, já que não deve haver segredo sobre venda de patrimônio público.
Em seguida, sem contestar um único argumento que expus, apelou à retórica política. Disse que sou candidato derrotado e tenho interesse na operação, já que sou acionista do banco.
O primeiro argumento é irrisório. Significa dizer que os cerca de 3 milhões de gaúchos que não votaram nele não têm direito de contestá-lo.
O segundo argumento é uma confissão de culpa. Explico.
Quando o governador diz que minha motivação é pessoal porque sou acionista, reconhece, implicitamente, que a operação desagrada aos acionistas.
Bem, desta vez ele tem razão. A venda de ações concebida pelo Piratini vai ser lesiva também ao acionista majoritário do Banrisul – o Estado.
Como? Ao contrário do mandatário, uso argumentos.
Primeiro. Em decorrência das últimas alienações, o Estado tem cada vez menos o que vender. De novo, vai se desfazer de patrimônio (finito) para pagar despesas correntes (perenes).
Segundo. Ao vender ações sem abrir mão do controle, ele desvaloriza as ações. O valor médio da venda de ações de bancos públicos das últimas duas décadas é de 2,45x o respectivo valor patrimonial – contra 1,05x e 1,27x dos últimos leilões de ações do Banrisul.
Com base nos fatos e dados, e considerando que essa venda novamente deve acontecer com preço de valor patrimonial, é possível estimar o prejuízo potencial: cerca de R$ 3 bilhões. Dinheiro meu, seu, nosso.
Terceiro. Perda de uma fonte de recursos permanente. Em 2018, o Estado recebeu cerca de R$ 300 milhões entre dividendos e JCP. Esta fonte vai minguar drasticamente.
Como se vê, usei matemática, economia e lógica. Incapaz de contra-argumentar, o mandatário usa retórica eleitoral.
Se ainda fosse candidato, perderíamos apenas nosso tempo. Como é governador, perderemos, todos os gaúchos, nosso dinheiro.