Por Isara Marques, jornalista
Quem assistiu à série Years and Years, do HBO, certamente ficou impactado. Porque nela é exibido um futuro piorado e que temos consciência de ser factível: o problema dos refugiados aumenta em grandes proporções, a natureza é descartada, as discordâncias são tratadas por meio de ataques nucleares, de mísseis.
Por outro lado, a tecnologia avança. Um dos personagens chama-se Signor – um robô que participa das conversas e facilita a vida do grupo com informações importantes. O Signor é uma maravilha, as pessoas o tratam até com certo carinho como se fosse da família.
Aqui no Brasil, o Signor já está chegando, numa versão experimental. Tenho aqui em casa a Alexa, da Amazon, (dizem que com voz feminina as pessoas se sentem mais à vontade até para xingar a máquina!). Às vezes me surpreendo por tratá-la com delicadeza e agradecer suas informações, principalmente quando reproduz as minhas músicas preferidas.
A série inglesa deixa claro que toda esta informação disponível não é transformada em conhecimento. As consequências são evidenciadas, principalmente, nas escolhas eleitorais – quanto mais caricato for o candidato, mais irracional forem suas propostas, maior a chance de agradar às massas.
Years and Years reitera, ainda, que essa intimidade com a tecnologia tem um preço: a personagem contadora que não tem mais utilidade é só um exemplo das muitas profissões que estão terminando. Já para os jovens, a perspectiva é desoladora: sem saber o que fazer com tantas informações e possibilidades, optam por fazer download de suas existências. Ou transformar seus olhos em câmeras, através de arriscadas cirurgias.
Um fator, no entanto, é poupado no futuro de Years and Years: a família. Esta continua sendo formada por pessoas que se reúnem, que celebram e que se solidarizam quando um deles é atingido por alguma adversidade. Como nos velhos tempos, antes de Signor e Alexa.