Por Fernanda Melchionna, deputada federal (PSOL)
Quando Paulo Freire disse que a inabilidade de ler não era uma "erva daninha" a ser erradicada, mas uma das expressões concretas da injustiça social, mostrou que a leitura é uma ferramenta essencial na compreensão da realidade e que historicamente é negada pelo Estado aos mais pobres. A tardia política de universalização da educação básica hoje é simbolizada pelo fato de 44% da população não se considerar leitora. A necessidade de reforçar a urgência do estímulo à leitura como um dever do poder público, motivou-nos a criar a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Livro, da Leitura e da Escrita no Congresso Nacional, lançada na semana passada com ampla participação de setores vinculados à pauta.
À herança brasileira de negligência na área, hoje se soma o desafio de combater o autoritarismo. Há relação direta entre a censura praticada recentemente por setores da extrema-direita, que cerceiam a liberdade de expressão, artística e cultural, a propagação de notícias falsas e o desmonte de políticas públicas de incentivo ao livro. Um povo que não lê tem dificuldades para o desenvolvimento do senso crítico e de discernir o verdadeiro do falso, sendo mais suscetível ao controle.
É natural recordar os tempos duros da Ditadura Militar, sem imprensa livre, em que obras consideradas imorais eram interpretadas como ameaça à sociedade. A desigualdade informacional é estratégica para assentar um projeto autoritário de poder.
Não é à toa que, na esteira dos cortes na educação pública, Crivella tenha se sentido legitimado a censurar uma obra por conter um beijo gay, Dória tenha recolhido livros didáticos que abordam gênero e sexualidade e a presidência da Câmara de Vereadores de Porto Alegre vetado uma exposição de charges por conter críticas a Bolsonaro. Felizmente, a derrota destes casos pelas vozes democráticas se materializou na Justiça.
O conhecimento é o único capaz de evitar uma marcha cega das massas rumo à escuridão e frear essa escada anti-iluminista. Que os livros nos iluminem!