Levou mais de 10 dias, entremeados por suposições disparatadas e negações sobre a dimensão do problema, para que o presidente Jair Bolsonaro finalmente reagisse de forma construtiva ao desastre ambiental e de imagem em razão dos desmatamentos e queimadas na Amazônia. As medidas anunciadas na sexta-feira representam um gesto positivo, mas, infelizmente, são insuficientes para recuperar de imediato os prejuízos que calcinaram em poucas semanas a imagem de responsabilidade ambiental duramente cultivada por governos anteriores.
Nossos problemas ambientais são antigos e reincidentes, mas o modo de lidar com eles vinha sendo positivamente aperfeiçoado nas últimas décadas
A sequência de erros de Bolsonaro é um compêndio sobre como erodir a percepção externa do país. Nossos problemas ambientais são antigos e reincidentes, mas o modo de lidar com eles vinha sendo positivamente aperfeiçoado nas últimas décadas. No início dos anos 1990, por exemplo, acossado pelas críticas internacionais sobre a destruição na Amazônia, Fernando Collor nomeou como secretário de Meio Ambiente um dos mais renomados ambientalistas brasileiros, José Lutzenberger, e recepcionou uma centena de chefes de Estado para celebrar a Rio 92, dando início à reversão na péssima impressão externa do Brasil. Em sete meses de atos e declarações conflitantes com uma política ambiental responsável, Bolsonaro ameaça pôr a pique grande parte do que se conquistara neste quarto de século.
Intencionais ou não, percepções são construídas por falas, gestos e atitudes – ou pela omissão deles. Assim, pela visão externa, ao enfraquecer e criticar a fiscalização do Ibama, Bolsonaro se pôs ao lado dos agressores do ambiente. Na mesma linha, ao demitir o diretor do Inpe que divulgou o aumento do desmatamento e atacar a imprensa pela sua cobertura, transmitiu a impressão de que pretendia abafar a extensão do problema. Pior ainda, ao dispensar o Fundo Amazônia com ataques à Alemanha e à Noruega, e em seguida admitir que o país não tinha como combater o fogo num território “do tamanho da Europa”, deixou claro que o Brasil despreza ajuda contra o desmatamento mas não sabe como lidar com uma situação que alarma o planeta. Foram tantos os sinais trocados que Bolsonaro enviou ao Exterior, que é de admirar que a reação internacional só tenha explodido na última semana.
Como é recorrente em temas de grande impacto, as redes sociais, tão incensadas pelo círculo bolsonarista, trataram de potencializar e desvirtuar a realidade, com uso equivocado e maldoso de imagens ou informações imprecisas e francamente distorcidas com interesse político. No entanto, nada disso teria acontecido se o atual governo viesse dando mostras palpáveis de que está agindo a favor da preservação da floresta. As forças-tarefas que se formam agora para tentar reverter a devastação na imagem do país tem uma missão difícil, mas não impossível. No entanto, serão necessárias ações rápidas e efetivas para que o agronegócio brasileiro não sofra represálias e o presidente brasileiro não se torne um pária mundial, ao lado do qual outros líderes evitem ser fotografados.