Por Cezar Roedel, analista de Política Internacional
José Maria da Silva Paranhos Júnior ou, Barão do Rio Branco (1845 - 1912), um dos patronos da diplomacia brasileira, aguardou quase uma década para efetivar sua postulação como Cônsul-Geral em Liverpool, o posto diplomático mais importante à época em que as relações com a Inglaterra ainda eram prioritárias. Barão do Rio Branco, advogado, historiador, diplomata – entre outras qualificações, que não são poucas –, também foi um dos responsáveis pelo Brasil territorial que conhecemos hoje. Ele foi o grande arquiteto da diplomacia brasileira em um de seus relevantes contornos, muitas vezes esquecido: a de que ela não está à serviço de governos ou volições temporárias e sim, do interesse nacional.
Desta tradição se fez a diplomacia brasileira. Por mais que as nossas leis permitam a indicação política para ocupação de postos diplomáticos no exterior, os casos não são tão recorrentes. Se tomarmos a Embaixada brasileira em Washington como exemplo, talvez uma das únicas indicações – de cunho político – tenha ocorrido durante o regime militar, em 1967, com a indicação de Juracy Magalhães. Juracy fora Ministro das Relações Exteriores e também teve papel relevante na assinatura do histórico Tratado de Itaipu, ou seja, salvo melhor juízo, preencheu os requisitos mínimos para uma indicação política, tendo prestado "serviços relevantes à nação" antes de ser cogitado ao relevante posto de chefe de missão diplomática permanente.
Barão do Rio Branco, em seu tempo, já antecipou como a política palaciana poderia ser prejudicial ao desenvolvimento de uma diplomacia centrada no interesse nacional. Assentou as bases da nossa diplomacia, consagrando a maior parte de seus princípios, hoje dispostos no artigo quarto da Constituição Federal. Quando observamos um governo construir a narrativa de uma "nova diplomacia", cabe-nos invocar o zeitgeist de Barão do Rio Branco que, de forma atemporal, parece nos dar um importante recado, em uma famosa frase de sua lavra e ainda atual: "um diplomata não serve a um regime e sim ao seu país."