O presidente Jair Bolsonaro tem o direito de descartar quem ele avaliar que não está de acordo com suas expectativas, mas a forma como tem feito as demissões revela um primitivismo no mínimo deselegante e estranho à liturgia do cargo que ocupa.
São exemplos desse comportamento os episódios recentes das saídas dos generais Carlos Alberto dos Santos Cruz e Juarez Aparecido de Paula Cunha, da Secretaria de Governo e do comando dos Correios, respectivamente, e de Joaquim Levy, da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Gestor moderno deve conduzir pelo exemplo e inspiração, e não semeando terror entre liderados
Os três – e outros exonerados antes – foram fritados por longo tempo ou ficaram sabendo da demissão pela imprensa, após entrevistas de Bolsonaro. Se, por razões como a burocracia que precisam enfrentar para executar suas tarefas e os riscos legais que assumem, já é difícil recrutar quadros de primeira linha para o governo federal, a possibilidade de serem submetidos a humilhação pública torna ainda mais remota a chance de pessoas com capacidade aceitarem uma posição de destaque na administração federal. O general Santos Cruz sujeitou-se a ataques do entorno ideológico do Planalto, mas teve comportamento digno, sem revidar de uma forma que potencializasse ainda mais as crises originadas no seio do próprio governo.
A destituição de Levy, da forma como ocorreu, não foi trivial. Demonstra intolerância e certa paranoia contra quem já serviu a diferentes governos norteado pelo interesse público. Se fosse alguém que não primasse pelos princípios racionais de gestão ou tivesse visão heterodoxa da economia, não teria, por exemplo, exercido funções relevantes no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional (FMI). Pelo contrário. Levy, assim como Paulo Guedes, é egresso da Escola de Chicago, referência do pensamento liberal.
Bolsonaro pode ter motivos para seus descontentamentos, que são compreensíveis, como no caso do general que mostrou oposição à ideia de privatização dos Correios. Ou a lentidão em executar diretrizes para o BNDES, como a devolução de recursos para o governo federal e desinvestimentos. O problema, é bom ressaltar, é a deselegância no trato.
Ao se comportar de forma descortês com subordinados, Bolsonaro não mostra autoridade, mas apenas desconhecimento de princípios básicos de civilidade e das qualidades que um gestor moderno precisa ter, conduzindo pelo exemplo e inspiração, e não pelo temor que semeia entre os liderados.