Se a intenção das manifestações da sexta-feira era mostrar força na oposição à reforma da Previdência, o tiro saiu pela culatra. A adesão à greve geral convocada pelas centrais sindicais teve adesão raquítica. Nem nas repartições públicas houve engajamento significativo, mostrando que nem sequer as categorias que costumam participar de forma mais aguerrida de mobilizações do gênero abraçaram a causa. Tampouco as ligadas ao transporte, setor que costuma determinar o sucesso ou fracasso de mobilizações do tipo. O que se viu, no fim, foi essencialmente uma sucessão de piquetes e bloqueios em ruas e estradas. Uma estratégia que costuma atrair mais antipatia da população, por cercear o direito de ir e vir do trabalhador.
Protestar é um direito, mas agressões e vandalismo não são argumentos que minimamente devam ser levados em consideração no debate sobre a alteração no sistema de aposentadorias. De nenhum lado a violência deve ser estimulada. Ao contrário, são atitudes que devem ser repudiadas. Apenas no Rio Grande do Sul, foram mais de 70 detidos, o que ilustra os excessos.
Protestar é um direito, mas agressões e vandalismo não são argumentos
Mas é lamentável que, diante das finanças públicas em frangalhos, uma parcela da sociedade simplesmente prefira fechar os olhos para a realidade e agir apenas em defesa dos próprios interesses corporativos. A necessidade da reforma da Previdência, aliás, foi reforçada pelo indicador do Banco Central que é uma espécie de prévia do PIB.
O IBC-Br de abril, conhecido na sexta-feira, mostrou retração de 0,47% na atividade na comparação com o mês anterior. O resultado indica que o Brasil, após um primeiro trimestre com resultado negativo na economia, está na antessala de uma nova recessão. Reformar as aposentadorias não é a solução de todos os problemas, mas é o ponto de partida da virada. A paralisia generalizada no país pede um choque de confiança.
Não há mágica. Com aposentadorias precoces e privilégios em profusão, especialmente no setor público, o rombo só cresce. Com o natural envelhecimento da população, se nada for feito, o desequilíbrio entre despesas e receitas previdenciárias será cada vez maior. Seria o colapso das contas nacionais, e em um futuro nem tão distante. Já há pesquisas de opinião mostrando que cresce o apoio da população à reforma, enquanto ainda existem desacertos em Brasília, como mostraram as críticas do ministro Paulo Guedes às mudanças feitas na Câmara em relação à proposta original. Felizmente, parece que, em meio a tanta insensatez, cresce o contingente de brasileiros que perceberam a gravidade da situação e a urgência de começar e desviar as finanças públicas da trajetória da insolvência.