Por Custódio Cesar Castro de Almeida, advogado
Na esquina da Avenida Independência com a Rua Miguel Tostes, os dois homens na casa dos 40 anos demonstravam aquela atitude indefectível de quem está perdido. Olhavam para o celular e gesticulavam em espanhol. Tive que perguntar se precisavam de ajuda. "Sin, las habitaciones estan llenas y buscamos un sitio cercano", respondeu um dos uruguaios. Caminhei uma quadra com a dupla e mostrei a direção do lugar que procuravam. Por pouco, pela primeira vez, não converti a minha casa em Airbnb de tão sensibilizado com a situação deles. A partida contra o Japão que os trouxe à Capital, pela segunda rodada da Copa América, terminou empatada em 2 a 2. Mas é certo que a atenção solidária que receberam de um porto-alegrense anônimo foi bem-vinda.
Desde 14 de junho, na primeira partida da fase classificatória na Arena do Grêmio, os hotéis registraram significativos índices de ocupação, especialmente no feriado de Corpus Christi, no jogo entre uruguaios e japoneses. Com público de quase 40 mil pagantes – boa parte vestindo a camiseta Celeste – , a disputa estabeleceu o terceiro maior público da fase de grupos do campeonato, registrando 95% dos leitos reservados.
E os hermanos trouxeram famílias. Vi vários pelas ruas da cidade, carregando os filhos pequenos pela mão. Foram conhecer a nova orla do Guaíba, passearam na linha Turismo, movimentaram restaurantes e cafeterias, enfim, ocuparam parques e espaços públicos. E construíram uma identidade para Porto Alegre, incluindo, nós, os habitantes. Partiram dos atributos tangíveis, desde se existia (ou não) placas de identificação nas "calles" até os intangíveis, o atendimento em hotéis e bares e o meu próprio.
O valor de uma marca também pode ser medido pelo grau de lembrança e de fidelidade. A economia do município quer muito a volta desses turistas, e boa reputação – o somatório de imagem e marca – vende. Na própria terra ou em terras estrangeiras, todos gostam de ser bem tratados e respeitados. E cada um de nós, governo ou cidadão, tem a sua responsabilidade. Uma marca não é apenas uma figura ou um nome. Hoje, é muito mais do que isso. É uma sensação, um sentimento, um estilo de vida. Acredito que Porto Alegre e eu deixamos a nossa. Qual é a sua?