Por Cassio Grinberg, sócio da Grinberg Consulting
Numa festa de casamento narrada no livro A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, o personagem Francisco D'Anconia, ao escutar um convidado afirmar que o dinheiro é a raiz de todo o mal, diz as sábias palavras do que ficou conhecido como o "discurso do dinheiro".
O dinheiro, inicia ele, é o código de comerciar dos homens de boa vontade, proprietários de sua mente: o homem honesto é aquele que sabe que não pode consumir mais do que produz – e temos, assim de saída, um ensinamento sobre reciprocidade que se aplica a pessoas, empresas e mesmo países: é preciso reinvestir para poder crescer.
O dinheiro, continua ele, não compra a felicidade para o homem que não sabe o que quer. Não lhe dá um código de valores se ele não tem conhecimento a respeito de valores e não lhe dá um objetivo se ele não escolhe uma meta. Substitua objetivo e meta por pitch e propósito e temos, nas palavras publicadas em 1957, as fundações de um novo discurso do dinheiro _ e, por consequência, daquilo que precisa ser erguido por qualquer empreendimento que almeje fazer a diferença.
No TED Talk mundialmente conhecido como The Golden Circle, Simon Sinek sugere que os consumidores não compram exatamente o que uma empresa produz, e sim a razão pela qual ela o faz. O que materializa exemplos como o do Lyft (precursor e concorrente do Uber nos Estados Unidos), que conectou a disposição das pessoas a dividirem caronas ao fato de que uma família americana gasta em média US$ 9 mil por ano com um carro que fica parado 96% do tempo _ e valeu US$ 24 bilhões no IPO por estar no negócio de redesenhar as ruas para os pedestres. Sem esquecer da Lego, que não terá mais peças plásticas até 2030.
Se no "discurso do dinheiro" é justamente a forma – corrupta ou honesta – de ganhá-lo (no país mais rico do mundo, o termo é "fazê-lo") o que pode valorizar ou condenar toda uma existência, no novo discurso do dinheiro também conta o modo como o usamos para resolver problemas de verdade, uma vez que, se de modo algum ele é raiz de todo o mal, de certa forma pode ser a base para a transformação positiva.
Como diz o personagem de Ayn Rand, ninguém pode ser menor do que o dinheiro que possui.