Se existiu algum mérito na destrambelhada comunicação do ministro Abraham Weintraub sobre o contingenciamento de R$ 7,4 bilhões de verbas federais para a educação foi o de disparar um fundamental aviso de despertar sobre a importância do tema para o futuro do Brasil. As manifestações de rua da quarta-feira, que se espalharam por várias cidades do país, representam um sonoro alerta de que a questão merece atenção máxima de qualquer governo, seja qual for o matiz ideológico. Infelizmente, a educação no Brasil tem sido tratada de forma enviesada.
Enquanto o ensino estiver envolto em disputa ideológica, haverá escasso flanco para avanço
De um lado, um governo com bolsões inquisitoriais – inclusive nessa sensível área de essencial importância para um futuro melhor para a nação – distrai o foco com questões secundárias e de cunho ideológico, como os ataques ao estudo de ciências humanas e uma delirante percepção de que universidades, que tiveram cerca de R$ 2 bilhões retidos, tornaram-se antros de drogados e pervertidos, tomadas pelo que classificou como balbúrdia. No lado antípoda, corporações cevadas na máquina pública desviam o debate da necessidade premente de melhorar a eficiência e de criar novas formas de suplemento orçamentário para as universidades públicas – seja a cobrança de quem poderia pagar por sua formação superior, seja o financiamento de pesquisa pelo setor privado, com forte e real impacto positivo na sociedade, como existem exemplos, aliás, em grande parte do mundo.
O incontroverso é que educação é um sistema complexo, que vai da primeira infância à formação avançada, no qual diferentes camadas públicas, privadas e semiestatais deveriam conjugar esforços para impulsionar o desenvolvimento do país. Não é o que se vê. Enquanto a educação for envolta em uma disputa ideológica em que, em uma trincheira, o estudante é usado como estandarte para, na verdade, ser escudo para interesses políticos e corporativos, haverá escasso flanco para avanço rumo ao que é de fato relevante: uma revolução do saber que coloque de vez o país no caminho do desenvolvimento, independentemente de governos ou gestores de ocasião, à esquerda ou à direita.
Ao mesmo tempo, espera-se que, desta vez, Weintraub tenha aprendido uma lição. Se, desde o início, tivesse tratado o problema do financiamento das universidades como uma questão apenas técnica, derivada da frágil situação fiscal do país, não teria criado mais uma crise para o próprio governo. Bastava, como professor que é, ser didático. A educação já tem obstáculos reais demais à frente para que se perca tempo criando inimigos imaginários.