O presidente Jair Bolsonaro garantiu, pouco antes de embarcar de volta de Israel para o Brasil, que vai "jogar pesado" pela aprovação da reforma da Previdência. A intenção é a de dar início, já a partir de hoje, a uma agenda de audiências com parlamentares, buscando convencê-los da necessidade e urgência de aprovação das mudanças. A iniciativa é oportuna, pois vai permitir que o Planalto constate, na prática, falhas evidentes na articulação com o Congresso. O próprio presidente, que até agora não assumiu inteiramente o seu papel na defesa da reforma, precisa ter cuidado para não ceder a pressões, que são fortes, como ocorreu logo no início das negociações com parlamentares.
O próprio presidente induz a equívocos ao insistir em relacionar contatos políticos imprescindíveis com balcão de negociações
Nas últimas semanas, a missão de dialogar com legisladores vinha sendo delegada ao ministro Paulo Guedes, da Economia. O ministro, porém, é o dono do cofre, e nem sempre demonstra a habilidade política necessária, como ficou evidente, ontem, ao se indispor com deputados na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. O ministro deveria se precaver, para que argumentos relevantes, como o de que o país gasta 10 vezes mais com Previdência do que com educação, não acabem ficando em segundo plano.
As mudanças na seguridade precisam de um negociador com habilidade à altura da importância da reforma para o país. Não pode haver espaço para falha no diálogo com o Congresso. O próprio presidente, com frequência, induz a equívocos ao insistir em relacionar contatos políticos imprescindíveis com balcão de negociações ou outras deformações políticas.
Por outro lado, o espaço deixado pelo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, tem sido ocupado, além de Paulo Guedes, pelo ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz. Militar de formação, Santos Cruz se mostra capaz de ouvir, presta atenção no que o outro fala, quer entender o interlocutor. Mas o responsável pela Secretaria de Governo não é um político. Já o ministro da Economia está abrindo outras frentes de trabalho, como a reforma tributária, que também exige habilidade de negociação.
Claramente, o governo continua com um problema na articulação política. Nesse momento, é difícil prever se arranjo atual irá garantir os resultados esperados ou se será preciso um ministro político para fazer a articulação com o Congresso.