Por Aline Kerber , Socióloga e especialista em segurança cidadã
O dia 13 de março nunca mais será esquecido no Brasil e no mundo. Dois jovens, ex-alunos da escola pública Raul Brasil em Suzano/SP, invadiram a escola e mataram pessoas com arma de fogo — alunos, funcionárias e dono de uma loja. E, ao final, também morreram. Não foi um crime comum, foi um crime premeditado com muita crueldade e com a intenção clara de espetacularizar e causar o maior dano possível, inclusive com carro alugado e com outras armas e simulacros usados.
Paradoxalmente, há um decreto assinado no início do ano pelo presidente em relação à flexibilização de posse de armas. No entanto, considera-se essa política descabida pelo nível de violência cotidiana no Brasil e pelo risco gerado nos crimes. Além disso, 72% dos mais de 64 mil homicídios no país foram cometidos com arma de fogo em 2018. Nota-se que, sem arma de fogo, o potencial de lesividade desse crime em Suzano teria sido outro, como ficou claro com a vítima sobrevivente do golpe de machadinha.
Tragédia na escola parecida como a de Suzano em São Paulo só houve no Brasil em Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011, quando um ex-aluno da escola Tasso da Silveira matou 12 adolescentes. E, mais recentemente, em Goiânia, em 2017, onde um aluno matou dois colegas. O que aparentemente têm em comum entre esses episódios letais e o de Suzano? Adolescentes mortos com uso de arma de fogo e autores dos crimes diziam sofrer bullying, o que poderia ser a motivação para matarem tanto a escola (simbolicamente) quanto a comunidade escolar.
O desafio passa por maior controle estatal e políticas específicas nas instituições escolares, que representam antíteses da violência, com políticas de prevenção, gestão da informação e rede de proteção integrada. É fundamental usar o conhecimento para reduzir os fatores de risco da violência, resgatar a solidariedade, investir na valorização da vida e no reconhecimento das identidades juvenis. Chega de velarmos os nossos jovens por conta dessas barbáries!