Cristiane Vieira, pedagoga, doutora em Educação
A proliferação de notícias sobre a Momo, a escultura humanoide de rosto aterrorizante que nos últimos dias ganhou novamente as rodas de conversa e as redes sociais, de forma bastante emblemática, pode nos apontar uma necessidade urgente com relação às nossas crianças e à infância, de forma geral.
O que teria de fato, mobilizado pais, educadores e a sociedade em geral com a exposição daquela figura?
Podemos começar pensando na criança como um sujeito que, vulnerável ao mundo e às relações que ela estabelece com ele, precisa de cuidados diários, e que esse cuidado vai além do que se apresenta nas plataformas digitais e na sua utilização.
Obviamente, o medo que acomete os pais e educadores com relação à figura dos vídeos se justifica totalmente, pela quantidade de "armadilhas" que o universo digital nos apresenta, mas precisamos pensar, se o que de fato acontece, não é o medo do que oferecemos às nossas crianças. O que de fato fazemos e de que forma nossas atitudes como adultos referendam futuros comportamentos?
A violência pode acontecer de várias maneiras, no vídeo do pai incitando o próprio filho a bater em outra criança, na história do menino de cabelo afro que teve a vaga na escola rejeitada, porque "não tinha um cabelo padrão adequado".
Essas são atitudes que comunicam a criança, cada uma à sua maneira, um mundo de medo, de insegurança e de falta de proteção e amorosidade. E a esse mundo nossas crianças vêm sendo submetidas diariamente.
Por trás de todo esse medo, precisamos pensar se não se esconde a incerteza que nós temos como adultos do mundo que estamos oferecendo às novas gerações. O medo, então, precisa se transformar em atitudes e exemplos positivos, precisa sinalizar para as crianças que coisas ruins também existem, mas que o mundo que queremos viver e que pretendemos construir para elas é um mundo de mais tolerância, de menos violência e de muito mais tempo e afeto. Porque, nesse mundo, tudo o que representa a figura do Momo não vai mais ter mais lugar.