Por Luciano Alabarse, secretário da Cultura de Porto Alegre
Manoel Soares, conceituado e querido jornalista, escreveu contundente artigo sobre a situação atual do nosso Carnaval competitivo. Muitas são as razões para levar a sério suas considerações, o que não significa que não tenhamos argumentos complementares às suas afirmações.
A perspectiva de Manoel remonta à formação brasileira. Sobram insinuações à hegemonia predadora de uma elite branca e classista. Não há o que polemizar aqui. Mas quando tenta contrapor o Carnaval dos desfiles ao dos blocos de rua, me afasto de suas conclusões. Para defender uma manifestação legítima não é preciso desconsiderar o que está sendo endossado por milhões de brasileiros. A grande novidade do Carnaval, o Carnaval dos blocos, veio para ficar. Não é preciso confrontar nem confundir. O Carnaval de rua é legítimo e igualmente popular, absolutamente democrático. O argumento de que é uma versão higienizada, a imprimir disfarçadamente apartheid na festa, não me parece sustentável. Basta olhar e ver: ali estão representados todos, absolutamente todos, os segmentos sociais do país.
Há, ainda, a questão política. Gestores públicos brasileiros, nas principais cidades do país, se defrontam com a situação falimentar de seus orçamentos. Endividados até a raiz de suas finanças, são obrigados a fazer escolhas difíceis e impopulares. A redução, ou o corte total de aportes orçamentários ao Carnaval, sem essa perspectiva, não explica de forma convincente a situação atual da nossa festa maior.
Tenho acompanhado os esforços da comunidade carnavalesca para manter, nos próximos dias 15 e 16 e março, os desfiles no nosso Porto Seco. São guerreiros obstinados. Mas sem infraestrutura, todo esse esforço seria vão. Se não recebem verbas, têm da prefeitura a garantia dos serviços municipais necessários à realização do evento.
Adequar-se à realidade vivida é o que todos nós estamos aprendendo. O Carnaval, festa popular e democrática, assume outros formatos, diferentes sim, mas nunca excludentes. Não estamos escrevendo o seu obituário e sim o seu renascimento.