Por Fabio Berwanger Juliano, advogado
O Brasil é um país com alvará provisório. De norte a sul, todas as nossas instituições, sejam privadas ou públicas, funcionam com um documento não definitivo. A democracia instalou-se em nosso país sem conter todas as assinaturas necessárias para sua estabilidade, e volta e meia assistimos ameaças de não endosso ao projeto de nação democrática. Esse carimbo de provisório em tudo o que fazemos parece não nos incomodar. E não incomoda mesmo, pois saímos do estado do faz-de-conta, e do consentimento irresponsável, direto para o da indignação e revolta, quando tragédias nacionais vão se empilhando, dia após dia nos noticiários.
A aversão ao cumprimento de regras mínimas, e ao rigor necessário da fiscalização, começa no trânsito, e vai até os laudos de barragens. Dormitórios de crianças podem ser improvisados, mesmo que na instituição que os abrigue circule milhões de reais todos os meses. Nosso rigor moral e legal é dirigido ao outro, com o mundo nos relacionamos de forma egoísta, exigindo sempre “só um minutinho”, e com o infalível e irrecusável bom senso.
Enquanto não começarmos com as pequenas coisas, nos detalhes de nossos atos, e que forjam o caráter de um povo e de uma nação, assistiremos diariamente a um espetáculo de sirenes de evacuação em momentos equivocados, e de um horror que acreditamos erroneamente não ter contribuído. Como disse William Blake, a raposa culpa a armadilha, e não a si mesma. O Brasil precisa de um alvará definitivo, mas precisamos fazer jus a ele