É condenável sob todos os aspectos, mas principalmente os de caráter humanitário, o fechamento unilateral de uma fronteira agora convulsionada, mas que sempre foi símbolo de amizade e de cooperação: a da Venezuela com o Brasil. O governo Jair Bolsonaro age certo ao não morder a isca envenenada pela moribunda administração de Nicolás Maduro, acusada de desrespeitar reiteradamente noções elementares de direitos humanos. É importante que a cautela brasileira diante do aumento das tensões, que já provocaram até mortes, se mantenha. A expectativa de encaminhamento de solução se transfere para a reunião do Grupo de Lima na segunda-feira, em Bogotá, na Colômbia, da qual participarão o vice-presidente, Hamilton Mourão, e o chanceler Ernesto Araújo.
O melhor que o governo venezuelano poderia fazer nesse momento é se convencer de que não tem condições de seguir adiante. O reconhecimento abriria caminho para a realização de eleições livres e para um plano de reconstrução do país, tanto sob o ponto de vista da economia quanto das estruturas institucionais. O fato de essa ser uma saída improvável, e de faltarem canais de diálogo, reforça a importância da reunião do Grupo de Lima. No encontro, representantes de países que reconheceram o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela buscarão saídas para restabelecer a normalidade institucional no país vizinho.
Impedir a entrada de ajuda humanitária é um ato grotesco, que mereceria a condenação de toda a sociedade brasileira. Diante do sofrimento da população venezuelana, causa estranheza o silêncio de segmentos que se autoproclamam defensores dos direitos humanos e da democracia. Os venezuelanos, como demonstra a cobertura da crise que vem sendo feita por Zero Hora, são os mais prejudicados. Milhões deles conseguiram passar pela fronteira há algum tempo, antes do fechamento. Os que continuam no país já vêm sendo privados de suas liberdades e de itens essenciais como comida e medicamentos. Não podem ficar também sem ajuda humanitária.
O clima de beligerância na fronteira surge como um ingrediente preocupante. Até mesmo brasileiros são prejudicados diretamente pela intolerância do país vizinho, e não apenas nas relações comerciais. Roraima, que não está interligada ao sistema elétrico brasileiro, depende do fornecimento de energia por parte da Venezuela, onde muitos brasileiros também abastecem seus veículos. Uma escalada de tensão no continente só serve aos interesses do ditador venezuelano, que precisa de fantasmas externos para se manter, ainda que cambaleante, no poder.