A exposição pública de diálogos privados entre o presidente da República e um ministro é uma clara demonstração da falta de coordenação e do desequilíbrio no círculo íntimo do poder. No momento em que a áspera troca de mensagens entre Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno, hoje ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, circula na imprensa e nas redes sociais, perde o país.
O que está em questão não é apenas a lamentável promiscuidade entre questões familiares e de gestão. O que mais preocupa é a perda de foco no momento em que o Brasil é chamado a debater e decidir sobre temas bem mais relevantes, como a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro Sergio Moro.
Ainda assim, chama a atenção que um dos responsáveis pela campanha presidencial e um dos nomes mais influentes do governo tenha sido demitido justamente depois de ter sido chamado de "mentiroso" pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), um dos filhos do presidente. A alegação, desde o início da contenda, era de que o presidente da República não havia conversado com o ex-colaborador no A alegação, desde o início da contenda, era de que o presidente da República não havia conversado com o ex-colaborador no dia 12, no auge das denúncias envolvendo candidaturas do PSL. Reportagem divulgada pela revista Veja revela uma intensa troca de áudios entre ambos nesse dia.
Combinam-se também no episódio, consideradas as informações até agora disponíveis, o condenável vazamento de conversas privadas e, por outro lado, o inacreditável descuido da maior autoridade, num momento crucial para o país. A estas alturas, o presidente da República, cercado por um caro e sofisticado aparato de segurança e de inteligência, deveria ter mais clareza sobre as precauções exigidas pelo cargo. Mídias sociais podem facilitar a comunicação de candidatos com eleitores, mas não substituem o Diário Oficial no caso de quem ocupa o principal cargo público do país.
O governo Bolsonaro precisa aprender rápido com seus erros e corrigir rumos. Ninguém consegue governar roído por intrigas, rancores e conspirações imaginárias.