A primeira grande crise do governo Jair Bolsonaro — agravada por denúncias envolvendo figuras importantes do PSL, o partido do presidente — tende a ser mais um obstáculo para a retomada de crescimento da economia brasileira, que tanto tem demorado a engrenar.
Mesmo que não atrase a reforma da Previdência, a tensão entre Gustavo Bebianno e o clã Bolsonaro fragiliza o Planalto em um momento em que o governo precisa, mais do que nunca, mostrar unidade. Em um Congresso muitas vezes movido por interesses próprios, qualquer sinal de fraqueza pode significar concessões dolorosas e deformações relevantes no projeto de mudanças no sistema de pensões e aposentadorias. Tal fragilidade foi um dos fatores que impediram que qualquer proposta de reforma avançasse durante o governo Michel Temer.
A Câmara e o Senado precisam demonstrar vontade de transformar o país, encerrando ciclo pernicioso de gastos públicos direcionados preferencialmente a aumentos salariais de quem já ganha mais no setor público ou a favores a setores econômicos em troca de apoio político. A retomada se dará pela confiança, e ela virá se o Brasil, pelos três poderes, demonstrar que está de fato comprometido em tratar com maturidade suas contas públicas.
O país não pode esperar mais e Brasília necessita estar ciente dessa urgência. A simples aprovação das mudanças, que por si só não basta para garantir a retomada do crescimento, é, contudo, condição para que a atividade econômica consiga, finalmente, acelerar em ritmo decente.
Os efeitos positivos da reforma da Previdência sobre a confiança dos agentes são incertos e não terão repercussão imediata sobre a capacidade do governo de voltar a investir. Mas é necessário que o setor público acerte um rumo para o equilíbrio de suas contas, abrindo caminho de vez para a retomada dos investimentos e, em consequência, da oferta de empregos.
A constatação, feita por analistas do mercado, de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve repetir o fraco resultado dos últimos dois anos já é motivo para frustração e indica que a equipe de Paulo Guedes terá desafios ainda maiores pela frente. As concessões em infraestrutura prontas para serem oferecidas ao mercado não devem produzir efeito no curto prazo e a queda no preço das matérias-primas no mercado internacional joga por terra qualquer esperança de ajuda externa.